Primeiro Angola, e depois Angola
Os líderes políticos e governamentais devem trabalhar em conjunto, e em parceria directa com os diferentes stakeholders. Somos todos Angola, os Angolanos, os expatriados, as empresas, as organizações não governamentais, os parceiros económicos, sociais e humanitários, os investidores e os financiadores. Todos temos um qualificado e verdadeiro interesse se no futuro do País.
A Organização Mundial da Saúde declarou a 11 de Março de 2020 a COVID-19 como uma pandemia. Além das sérias implicações para a saúde das pessoas, a COVID-19 está a ter um impacto significativo nas várias economias.
Angola não ficou de fora. Muito pelo contrário, estamos a viver em Estado de Emergência.
É tempo de agir, de prevenir, de estancar e de tratar este problema que assola a saúde humana, mas também as suas consequências do ponto de vista social, sanitário e económico.
Nenhuma crise é um incidente isolado e controlado, e esta está a superar qualquer tipo de previsibilidade ou padrão, situação que está muito para além da experiência dos grandes líderes políticos e empresariais.
A COVID-19 é uma das grandes batalhas da humanidade do nosso tempo, onde não haverá vencedores, apenas vencidos e sobreviventes.
A sobrevivência dependerá da capacidade de prevenção dos países, das comunidades e das organizações, bem como da sua capacidade de resposta e gestão da crise.
Contudo, é com esperança nesta sobrevivência que devemos projectar o futuro, definir uma visão clara de onde queremos estar e, juntamente com a comunidade civil, empresarial, política e internacional, definir o plano de transformação.
Parte do mundo está na linha da frente, outra parte de quarentena. É preciso encarar este tempo de Estado de Emergência, e preparar uma verdadeira Quaresma, como um tempo de reflexão sobre as áreas a melhorar, e um tempo de transformação.
Nas últimas semanas, o agravamento da situação económica e financeira de Angola projecta-se cada vez maior, devido directamente à crise pandémica, mas também à situação de endividamento do País e a sua incapacidade de cumprimento, à redução drástica do preço do petróleo, o desinvestimento expectável das grandes organizações, e a dependência de outros sectores económicos em queda abrupta.
Diria que o momento é de elevada fragilidade e vulnerabilidade, seguem-se tempos de medidas duras e exigentes, mas que terão que ser bastante sérias e assertivas, por forma a que estas tragam credibilidade às acções, e assim o comprometimento de todos. É fundamental para isso uma interacção constante e transparente com as várias partes interessadas e uma comunicação permanente.
Urge identificar onde estão as oportunidades de crescimento e definir quais os drivers para criar um ecossistema que potencie este crescimento.
Como construir confiança neste processo de transformação?
Como trazer credibilidade à gestão de crise e ao projecto de recuperação e crescimento? A transformação exige confiança.
Como tornar a experiência de viver, crescer, trabalhar e fazer negócios em Angola positiva?
Os líderes políticos e governamentais devem trabalhar em conjunto, e em parceria directa com os diferentes stakeholders. Somos todos Angola, os Angolanos, os expatriados, as empresas, as organizações não governamentais, os parceiros económicos, sociais e humanitários, os investidores e os financiadores. Todos temos um qualificado e verdadeiro interesse no futuro do País.
Por outro lado, a confiança permite a abertura, fluidez e disposição para correr riscos. Todas as transformações, sejam de países, comunidades ou empresas, exigem exemplos vivos de confiança. É preciso auscultar a comunidade, pois é para ela e com ela que a transformação acontecerá.
É urgente criar uma plataforma nacional de diálogo construtivo e de trabalho, com vista à definição da estratégia, nos mais variados sectores e áreas da sociedade, à identificação de medidas estruturais de melhoria para o ecossistema humano, mas também empresarial, e onde se deverá partilhar responsabilidades entre os principais stakeholders.
Acredito que esta verdadeira cooperação e diálogo, concertado e estruturado, poderá reunir e alavancar as ideias e medidas com mais impacto líquido para a sociedade, onde o benefício social e/ou económico seja superior ao seu custo de oportunidade.
Compromisso e acção geram consistência. A consistência gera coerência. E a coerência gera confiança. A confiança promove a Transformação.
Penso igualmente que o mesmo terá que acontecer ao nível das empresas, das instituições e dos diferentes organismos.
Quais os problemas que as organizações estão a encontrar por não terem:
- Avançado para uma transformação digital?
- Organizado e estruturado sua tesouraria?
- De não ter um conjunto de regras, processos e matriz de responsabilidades claramente definidas?
- Capacitado os seus trabalhadores para uma maior autonomia e responsabilização, bem como se adaptado ao trabalho mais digital?
- Redefinido o seu negócio e a sua cadeia de abastecimento e distribuição?
- Adoptado um modelo operacional ágil e com capacidade de resposta rápida às variações do mercado?
- Preparado um modelo de análise e reporte on-line, que permita visualizar o seu negócio a cada momento, bem como ter a capacidade de antecipar cenários de forma preditiva?
O Centro de Crises Globais da PwC tem colaborado com várias organizações de diversos sectores, no sentido de ajudá-las durante este difícil período, sistematizando as 6 principais áreas-chave de foco imediato:
1. Gestão e resposta a crises:
a. Desenvolver planos de gestão de incidentes e cenários específicos
b. Promover comunicação factual e eficaz às partes interessadas
c. Planear como atender às prioridades do governo e minimizar o risco de interrupções nos negócios;
2. Força de trabalho:
a. Atender a preocupações imediatas de mobilidade, como rever regras de viagem, políticas de RH, primeiros socorros
b. Avaliar a estratégia de trabalho remoto, realocação ou paragem temporária
c. Abordar as tensões existentes na infraestrutura de TI para apoiar o trabalho remoto
3. Operações e cadeia de abastecimento:
a. Identificar cenários alternativos da cadeia de abastecimento e distribuição
b. Avaliar a substituição de matérias-primas e de peças
c. Adaptar estratégias de preços e go-to-market
d. Garantir a resiliência nas funções-chave, de forma a manter as operações em funcionamento
4. Finanças e liquidez:
a. Avaliar e planear a capacidade de fundo de maneio
b. Considerar e pensar em divulgações relacionadas a riscos e incertezas sobre o impacto do COVID-19 em períodos futuros
c. Avaliar divulgações sobre o impacto actual e futuro dos recursos de liquidez e capital
5. Impostos e comercialização:
a. Avaliar os recursos necessários para atender aos requisitos contínuos de conformidade, impostos pela autoridade tributária
b. Avaliar aplicabilidade dos apoios às empresas e medidas fiscais excepcionais
c. Explorar oportunidades com foco numa maior flexibilização para responder às incertezas do mercado
6. Estratégia e Comunicação:
a. Acelerar a transformação digital, pois a mudança para o trabalho remoto revela lacunas na infraestrutura de TI, planeamento da força de trabalho e dos skills digitais;
b. Planeamento de cenários, exercícios de modelagem financeira mais frequentes para melhorar a resiliência e antecipar medidas;
c. Auscultar e analisar os clientes e avaliar as mudanças nos principais mercados ou modelos de negócios.
Em resumo, neste ambiente de alta incerteza, é difícil ter clareza sobre qual o rumo a seguir. Mas com certeza, é um momento de acção imediata, mas também de reflexão e transformação, e que urge e torna mandatório o diálogo, a cooperação e a concertação dos vários stakeholders, para que todo o País avance no mesmo sentido e com confiança, colocando sempre em primeiro lugar Angola, na sua segurança e protecção, e depois Angola, na sua prosperidade e crescimento.
*PwC Consulting Senior Manager