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Opinião

Anjos iluminados

Editorial

É difícil de quantificar a enormidade de dinheiro que foi desviada dos cofres públicos, pois são cada vez mais as histórias em que os milhões se somam e a consideração e respeito desaparece.

A queda dos "anjos iluminados" pode ser muito trágica e barulhenta, mas não se compara com os estragos que causou na vida de milhões de angolanos sem voz, que nunca perceberam que, por vaidade e egoísmo, lhes roubaram a possibilidade de ter uma vida decente. Muitos já morreram inclusive, vítimas das doenças que não foram combatidas, porque os medicamentos e os equipamentos hospitalares foram trocados por relógios de luxo, casas no estrangeiro e outras mordomias, que ostentaram, e ainda ostentam, na cara da população. E existem alguns que ainda ensaiam o discurso do "coitadinho", do "perseguido", à procura daquilo que nunca tiveram - respeito e compreensão pela situação dos outros.

Mas também não nos devemos deixar impressionar pelos "novos justiceiros" de fato italiano, "tubarão" de vidros fumados, casas no estrangeiro, e que não aceitam ser escrutinados. Nem podemos cair na tentação do discurso fácil, "mas foram todos", que não é verdade. Conheço vários que passaram por lugares de destaque e que mantiveram os seus princípios e a sua idoneidade. Mas parece-me, mais ou menos consensual, que o mais importante é recuperar os activos para que possamos ajudar o País a recuperar da enorme crise em que se afundou nos últimos anos, e que isso possa reverter a favor do próprio desenvolvimento económico e social de Angola, a única fórmula de ajudar verdadeiramente as populações mais carenciadas. Mas isso não deve inibir "os anjos iluminados" de prestarem contas na justiça, nem se pode fingir que não aconteceu nada só por terem devolvido parte do seu património.

Muitas histórias que têm vindo a público já eram conhecidas, já se sabia que havia um esquema de desvio do dinheiro do País montado transversalmente, do topo quase até à base, agora a dimensão é que é pornograficamente muito maior do que se pensava. Custa a acreditar que estamos a falar de "desvios" de mais de 100 mil milhões de dólares no global, com fortunas individuais que chegam aos 5 mil milhões. Não tem qualquer desculpa!

Entre esta revolta que muitos sentem é importante não perder a noção que o mais importante é o País. Olhar para a frente, garantir que não se repete, criar condições para que o desenvolvimento aconteça, ter uma postura profissional no nosso trabalho e uma visão solidária na vida social. Não se podem acertar todas as contas de uma vez, agora existem outras prioridades, mas vai chegar o momento. Não se iludam!