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Opinião

Que mais nos irá acontecer?

Editorial

Estagflação é um cocktail económico composto por fraco crescimento ou recessão, subida do desemprego e inflação alta. O aumento simultâneo do desemprego e da inflação contraria a teoria clássica segundo a qual desemprego e inflação caminham em sentido contrário: quando o desemprego aumenta, a inflação diminui e vice-versa. A estagflação é talvez o "palavrão economês" que melhor caracteriza a nossa actual situação económica.

Segundo as Perspectivas Económicas Globais do Banco Mundial(BM) divulgadas na semana passada, em 2016, o PIB angolano deverá crescer apenas 0,9% em 2016 e não os 3,3% perspectivados no relatório de Janeiro. Um crescimento que não chega sequer para cobrir a taxa de crescimento da população que o INE estimou em 2,7%. Ou seja, estamos a empobreceraté em termos reais. Em termos nominais, em USD, não vale a pena: segundo o FMI, em dois anos, ficámos 36% mais pobres.

Menos crescimento e menos riqueza significam menos procura, aliviando a pressão sobre os preços. Mas não é isso que está a acontecer. Pelo contrário, como, aliás, confirmaram, mais uma vez, os dados de Maio divulgados pelo INE na sexta-feira, 10 de Junho, dois dias antes da data fixada (abro aqui um parêntesis para elogiar o INE pela recuperação na divulgação do IPC, depois dos atrasos registados em meses anteriores e que o Expansão noticiou em tempo oportuno).

Em Maio, o custo de vida na Província de Luanda, que serve de referência para a inflação em Angola, subiu 29,2% face a Maio de 2015, mais do que quadruplicando face ao mínimo de 6,9% registado em Junho de 2014.

Infelizmente não há dados sobre o desemprego, apesar das promessas constantes do mesmo INE que acabei de elogiar.As últimas estatísticas referentes a 2014 divulgadas um tanto envergonhadamente com os resultados definitivos do Censo 2014 apontam para uma taxa de desemprego de 24,2% entre a população activa com idades dos 15 aos 64 anos. Não custa admitir que essa taxa aumentou significativamente nos tempos mais recentes.

Como é fácil de perceber, a estagflação não é propriamente coisa boa. Mas ela está aí. O tempo dirá por quanto tempo. As projecções do BM apontam para uma aceleração do crescimento, já em 2017, para 3,1% e no ano seguinte para 3,4%, mas estas taxas pouco excedem o crescimento da população. É preciso mais, muito mais.

NOTA: Esta edição do Expansão é a última fechada por Ricardo David Lopes, supervisor de redacção, que vai abraçar um novo desafio profissional, para o qual a equipa que tenho a honra de liderar deseja os maiores sucessos. Para dar uma ideia da importância do Ricardo, se a redacção do Expansão fosse a Sonangol, diria que ele era o CEO e eu o Chairman. Antes de sair já estávamos com saudades. Muitas.