As últimas previsões de crescimento do Governo sugerem que a economia não petrolífera deverá encerrar 2016 em recessão ou andar lá perto. A diversificação (ainda) não se faz notar...
A economia angolana "só" deverá crescer 1,3% em 2016 e não os 3,3% do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2016.
A má notícia do corte nas projecções de crescimento da economia angolana em 2016 foi dada por um comunicado do Ministério das Finanças (MINFIN) em reacção à reacção dos mercados sobre o recuo no pedido de assistência financeira de Angola ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Como se conta na peça ao lado, as taxas de rendimento das obrigações angolanas dispararam mais de um ponto percentual após o anúncio da suspensão do pedido de ajuda ao FMI.
Feitas as contas, comparando as novas previsões com as do OGE, o crescimento global é cortado para menos de metade do inicial, mais precisamente em dois pontos percentuais (pp) para os referidos 1,3%. Embora o Governo não o diga expressamente, o corte no crescimento global é justificado na sua totalidade pelo sector não petrolífero.
Senão vejamos. "A produção média de petróleo em 2016 foi de 1,77 milhões de barris / dia, em linha com as estimativas do Orçamento de 2016", garante o comunicado do MINFIN.
De acordo com a página 27 do relatório de fundamentação do OGE 2016, o sector petrolífero deveria contribuir com 1,5 (pp) para o crescimento global de 3,3% no ano em curso. Já o sector não petrolífero contribuiria com 1,9 (pp). Somando os contributos dos sectores petrolífero e não petrolífero para o crescimento do PIB global inscrito no relatório de fundamentação do OGE 2016 chegamos a um crescimento global de 3,4% e não de 3,3%, diferença que atribuo a arredondamentos.
Mas isso não é relevante para o ponto que me interessa. E o ponto que me interessa é que os novos números do Governo sugerem que o sector não petrolífero angolano deverá registar uma recessão (crescimento negativo) em 2016.
Com efeito: Se o contributo do sector petrolífero para o crescimento global em 2016 era de 1,5 pp de acordo com o OGE 2016; Se o Governo diz que o sector petrolífero está a crescer em linha com o previsto no OGE 2016; Se, como agora diz o governo, o crescimento global em 2016 será de apenas 1,3%, 0,2 pp inferior ao crescimento do sector petrolífero; Então o contributo do sector não petrolífero para o crescimento global será de -0,2 pp.
Ou seja, o sector não petrolífero deverá registar uma recessão em 2016 ou andar lá perto. A avaliar pelos números oficiais, a diversificação (ainda) não se faz notar...
