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O congelamento das contas nacionais que dão uma recessão em 2016, contrariando o discurso oficial, é um tiro no sistema estatístico angolano ao colocar em causa a competência e a independência do INE

Há duas semanas "ofereci" uma agenda a Camilo Ceita, pelo facto da instituição que dirige, o Instituto Nacional de Estatística (INE), não ter publicado as Contas Nacionais do IV trimestre de 2016 até ao dia 10 de Abril, como se tinha comprometido a 12 de Fevereiro, quando apresentou, pela primeira vez, Contas Trimestrais, no caso referentes ao III trimestre de 2016.

O INE é "o" produtor oficial de estatísticas sobre Angola, entre as quais informações sobre o Produto Interno Bruto (PIB) trimestral. O PIB é só o indicador que melhor sintetiza uma economia, sendo por isso mais utilizado.

Entretanto, informação adicional chegada à redacção do Expansão revela que o INE fez o trabalho de casa e tinha as contas nacionais prontas para publicação na data aprazada. Até elaborou uma nota de imprensa para a divulgação que só não chegou às redacções porque foi "congelada" pelo ministério do Planeamento e do Desenvolvimento do Território. A tutela alegou "problemas metodológicos" que poderiam deixar o INE "mal visto".

A nota obtida pelo Expansão e que é manchete desta edição sugere que por de trás dos "problemas metodológicos" poderão estar outras razões.

É que, ao apontarem para uma recessão em 2016, com diminuição do PIB de 3,6%, os dados do INE contradizem o discurso oficial, que sempre descartou uma recessão em Angola, garantindo que a economia apenas perdeu "pujança", como declarou o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, perante a Assembleia Nacional por ocasião do discurso sobre o Estado da Nação.

O congelamento das Contas Nacionais Trimestrais é um tiro no sistema estatístico nacional, ao colocar em causa a competência e a independência do INE.

Aquando da apresentação das primeiras Contas Nacionais Trimestrais, foi referido que as Contas Nacionais foram produzidas e divulgadas, com assistência técnica internacional, com base em metodologias aceites pelo Fundo Monetário Internacional e pelas Nações Unidas, sem que ninguém contestasse. Na ocasião, o INE disponibilizou-se para receber sugestões e/ou críticas que pudessem servir para a melhorar as contas do III trimestre e as publicações futuras.

Por isso não entendo o congelamento e envio a Camilo Ceita e a todos os trabalhadores do INE, em especial aos envolvidos na elaboração das contas Nacionais, um abraço de solidariedade.