Linhas de financiamento
Como não existe uma transparência sobre a forma como os financiamentos são gastos, trabalhamos apenas com dados gerais e genéricos e esbate-se a responsabilização. E faz-se mais um financiamento para pagar o financiamento anterior, uma vez que não conseguimos captar e segurar o investimento. Muitos querem emprestar-nos, mas poucos querem pôr o seu próprio dinheiro no País. Devíamos olhar bem para isto.
A questão da diminuição do stock de investimento estrangeiro no País deve ser analisada com bastante atenção, uma vez que representa a incapacidade de reter no nosso território "dinheiros" que são fundamentais para o nosso desenvolvimento. Não vale a pena fingir que não está a acontecer e que não é preocupante, como disse José Severino no nosso Fórum Indústria, porque leva a uma postura "de deixa andar", que complica mais e mais a nossa situação. Também não é com declarações perfeitamente irrealistas sobre a nossa capacidade de captar investimentos, associada a processos de intenção e cerimónias de lançamento de "primeiras pedras", que a situação muda.
Uma das coisas com as quais nos batemos há anos é que as condições, leiam-se despesas, taxas de juro e prazos, em que são contratados os financiamentos para o País sejam públicos. Embora alguns dos nossos governantes fujam do assunto, não é a mesma coisa ir buscar um crédito em moeda estrangeira com uma taxa entre 6 e 8%%, que evidencia um risco médio, ou um crédito com uma taxa entre os 11 e os 13%, que dificilmente poderá ser considerado um "bom negócio". Embora não o possamos confirmar, dizem-nos algumas pessoas que o País já se endividou com taxas superiores a estas e, pior do que isso, ninguém foi responsabilizado. Para termos uma ideia, as nossas yields estão hoje nos 11,3%.
A gestão das linhas de financiamento também tem de ser apertada. Este é um assunto tabu, que não é tornado público, o que legitima suspeitas de má utilização de recursos. Uma linha de financiamento aprovada começa a ser paga quando é aberta, um valor por vezes alto (despesas), mais os juros que vão vencendo de acordo com os prazos estabelecidos. Ou seja, de uma forma que todos entendam, se uma linha é de 500 milhões USD, não faz sentido abrir com um investimento de 5 milhões, porque paga-se muitas vezes um valor superior em despesas, que depois leva muito tempo a utilizá-la. Se pudéssemos resumir, as linhas de financiamento devem ser abertas e fechadas no mínimo espaço de tempo e não faz sentido nenhum ter muitas linhas abertas à espera de projectos.
Depois temos um eterno problema de escolha de projectos. Muito do dinheiro que gastámos de linhas de financiamento externo foram em infraestruturas ou outros projectos que hoje não existem ou estão degradados, pois comprar novo é a nossa vocação, manter e cuidar é que é mais difícil. Quantas estradas, escolas, hospitais, edifícios, fábricas ou outras infraestruturas foram construídas sem que estivessem contempladas verbas para os equipamentos, para a manutenção ou para as pessoas que teriam de trabalhar lá?
Mas como não existe uma transparência sobre a forma como os financiamentos são gastos, trabalhamos apenas com dados gerais e genéricos e esbate-se a responsabilização. E faz-se mais um financiamento para pagar o financiamento anterior, uma vez que não conseguimos captar e segurar o investimento. Muitos querem emprestar-nos, mas poucos querem pôr o seu próprio dinheiro no País. Devíamos olhar bem para isto.