Proibida a entrada de Homens!
Apesar de acusações ou do receio de acusações de discriminação e sexismo (...) a verdade é que estes espaços de mulheres para mulheres se impõem, porque as mulheres, em geral, não se sentem seguras. O mundo é, tantas vezes, agressivo e perigoso, e as mulheres oferecem às mulheres a protecção de que estas precisam.
A Yolanda (de 27 anos), a Daisy (de 40 anos) e a Bella (de 57 anos) estão lindas, com a pele brilhante, batom vermelho e riso genuíno. Elas juntam-se a outras mulheres, entusiasmadas, sozinhas ou em grupos, a rir, a falar alto, com e sem maquilhagem, vestidas para dançar ou vestidas de forma mais casual, com corpos de todos os tamanhos, com saltos altos e sem saltos altos, que fazem fila diante da porta de um bar no bairro Northbridge, em Perth, na Austrália Ocidental. Estas mulheres ruidosas, alegres e cheias de energia chamam a nossa atenção e fazem-nos sorrir. Há, no entanto, algo peculiar: não há homens na longa fila de mulheres que aguardam a abertura das portas do bar, e também não há homens a trabalhar, lá dentro.
As publicações que encontrei sobre este bar fizeram-me recordar uma iniciativa que estava a acompanhar nos jornais e redes sociais no final do ano passado: a aplicação Pinker, uma plataforma de transportes para mulheres. Infelizmente, o projecto foi suspenso pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) português. "O IMT entende que «não pode haver discriminação na actividade de transporte individual e remuneração de passageiros» em TVDE (Transporte de Passageiros em Veículos Descaracterizados) e que esse serviço não pode ser prestado ou recusado por um operador, em função de critérios eliminatórios que incluem, entre outros, a idade, o sexo, o estado civil, a orientação sexual, a situação económica, nacionalidade ou religião" (explicador-Renascença, 02.12.2024). Entretanto, este mês, saiu a notícia do lançamento de um novo serviço da Uber, em Lisboa: o "Women Drivers", que oferece uma opção nova, dentro da plataforma já existente: um serviço exclusivo para mulheres que optem por viajar com motoristas do sexo feminino (CNN Portugal, 02.07.2025). "O lançamento em Portugal surge após a implementação em mercados europeus como França, Alemanha e Polónia, mas também na África do Sul, Argentina e Austrália, «reforçando a aposta global da Uber em criar liberdade de escolha, dando resposta a necessidades concretas e diferenciadas dos seus utilizadores», realça a empresa" (Jornal de Negócios, 02.07.2025).
Mas os locais e serviços exclusivamente para pessoas do género feminino não se limitam a bares e transportes. No mundo, existem outros locais e serviços só para mulheres, como, por exemplo:
Aldeia Umoja, em Samburu, no Quénia. Uma comunidade fundada em 1990 para abrigar mulheres vítimas de violência doméstica e abuso. A aldeia é um refúgio seguro, onde as mulheres se sentem protegidas e têm a tranquilidade necessária para se reconstruírem.
Luthan Hotel, em Riad, na Arábia Saudita. Este hotel luxuoso, o primeiro projectado exclusivamente para mulheres, existe desde 2008. Aqui, num ambiente tranquilo e sofisticado, as mulheres podem desfrutar de SPA, ioga, piscina e ginásio - sem a presença de homens.
Ilha SuperShe, em Raseborg, a aproximadamente 90 minutos de Helsínquia, na Finlândia. Esta é uma ilha privada que oferece serviços de turismo e bem-estar exclusivamente para mulheres, desde 2018. As actividades incluem ioga, sauna, massagens e passeios pela natureza.
O turismo dedicado apenas a mulheres parece estar em crescimento. De Londres a Singapura, há outros hotéis - ou áreas de hotéis - só para mulheres. Há também várias agências de viagens que organizam viagens para grupos de mulheres, como é o caso da Girlfriends Travel, criada em 2016, que junta mulheres em grupos com os mesmos interesses e com vontade de viajar. Porque é que as mulheres buscam estes grupos, espaços e serviços de mulheres? Pelas razões que se seguem:
1. Trauma e necessidade de controlo do ambiente. Mulheres que sofreram assédio, abuso ou violência desenvolvem, muitas vezes, ansiedade em espaços públicos. Ambientes exclusivamente femininos oferecem previsibilidade, acolhimento, tranquilidade e segurança.
2. Espaços seguros como suporte da identidade. Nestes espaços protegidos, as mulheres podem exprimir-se de forma genuína, sem medo de julgamentos, comentários e assédio.
3. Redução do stress social. A ausência da percepção de ameaças favorece a autorregulação emocional, diminuindo a ansiedade e o estado de alerta.
4. Psicologia comunitária. Os espaços femininos podem ser vistos como formas de resistência e autocuidado colectivo, como acontece na aldeia queniana Umoja.
Leia o artigo integral na edição 836 do Expansão, de Sexta-feira, dia 25 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)