Empresas proibidas de contratar lesaram o Estado em milhões Kz
Algumas destas 51 empresas causaram prejuízos de milhões ao Estado por não cumprirem os contratos. A recuperação destes valores é uma das prioridades do Ministério das Finanças, mas entidades públicas contratantes também falham na avaliação dos concorrentes, que muitas vezes terceirizam os contratos ganhos, por falta de capacidade para os concretizar.
Pelo menos 51 empresas estão proibidas de fazer contratos com o Estado e entraram na "lista negra" do Serviço Nacional da Contratação Pública (SNCP), por incumprimento de contratos assinados, alguns já pagos na totalidade.
Neste grupo, destacam-se empresas ligadas à construção civil com projectos enquadrados no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), que está a ser desenvolvido nas diferentes províncias do País. Segundo apurou o Expansão, a maioria das empresas que fazem parte das incumpridoras está associada a obras do programa, lançado em 2019 pelo Governo como o trunfo para o desenvolvimento dos municípios, e financiado com recursos do Fundo Soberano no total de 2 mil milhões USD.
Para além da construção civil, há também empresas de prestação de serviços e bens ao Estado, e aqui destaca-se a Ossaily General Trading, que falhou a entrega de viaturas e ficou proibida de contratar com o Estado por um período de dois anos, desde o mês passado. Ou seja, caso não ultrapasse a situação, só vai poder voltar a fazer contratos com entidades públicas a partir de Junho de 2027.
Essas empresas foram sancionadas por violação de contratos e práticas prejudiciais ao Estado. A inclusão nessa lista impede as empresas de celebrar novos contratos com o Governo, por um período que pode variar de um a três anos, conforme a gravidade da infracção.
Apesar de estarem na "lista negra" da contratação pública, as empresas podem negociar com o Estado e saírem dela antes do tempo previsto, desde que consigam cumprir o contrato ou, no caso de obras, retomarem e concluírem os projectos. Há ainda a possibilidade de devolução do dinheiro já recebido. "O Estado não pretende perder dinheiro e a possibilidade de negociação é neste sentido. Por exemplo, no caso de obras de construção, é mais rentável um projecto paralisado, parcialmente pago, retomar, do que voltar a abrir um novo no procedimento concursal. Mas isso não quer dizer que vamos andar atrás das empresas. Quem está nesta lista é que tem de se preocupar em cumprir o contrato assinado", disse ao Expansão fonte do Governo.
Há também a possibilidade de as empresas incumpridoras de contratos assinados com o Estado serem responsabilizadas judicialmente, sobretudo, quando se verificam sinais de fraude, já que algumas concorrem a concursos públicos sem estarem em condições de concretizar os mesmos. Fazem a pensar na terceirização, conseguida muitas vezes com o dinheiro obtido com down payment (primeiro pagamento), que as entidades públicas contratantes fazem.
"Algumas destas empresas não têm condições para a execução de obras, prestação de serviço ou fornecimento de bens e serviços a que se candidatam. Fazem-no a pensar que também vão contratar outras empresas para o fazer. Recebem o primeiro pagamento, mas nem sempre as coisas correm bem e falham o contrato", explicou a fonte.
Responsabilização de gestores
Embora as empresas que falhem contratos com o Estado, ao abrigo da Lei dos Contratos Públicos, entrem na "lista negra" de contratação, a responsabilização do não cumprimento de alguns contratos deveria ser extensiva a entidades públicas contratantes, defende o jurista Lucas João, por considerar que nenhum gestor público deveria contratar sem estarem asseguradas as condições para o cumprimento dos contratos.
Leia o artigo integral na edição 836 do Expansão, de Sexta-feira, dia 25 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)