Oito em cada 10 obras no País estavam paralisadas no final do I semestre
Sem acesso a crédito, a maior parte da população que constrói casa própria está obrigada a fazê-lo com recursos próprios. Recursos que às vezes acabam no meio do caminho, adiando o sonho de ter uma casa.
No primeiro semestre do ano, 80% das obras estavam paralisadas em todo o País, naquele que é o valor mais alto dos últimos quatro anos, de acordo com cálculos do Expansão com base nos dados do Inquérito Trimestral de Avanço e Acompanhamento dos Edifícios em Processo de Construção (ITAEPC) publicado recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O documento avança que nos seis primeiros meses do ano foram visitadas 3.544 obras em todas as províncias, das quais apenas 706 estavam em processo de construção e 2.838 estavam paralisadas, o que demonstra que persistem no mercado nacional problemas relacionados com o sector da construção. Entre Janeiro e Junho deste ano, a percentagem de obras paralisas aumentou 7,0 pontos percentuais face aos 73% registados no final de 2024. Ainda assim, está abaixo dos 90% de obras paralisadas em 2020, consequências da pandemia da Covid-19.
Este relatório do INE é um indicador do estado do sector da construção no País, que há muito está em crise devido, sobretudo, à alta dos preços dos materiais de construção, mas também à falta de crédito e à perda do poder de compra das famílias angolanas, factores apontados pelos diferentes especialistas como as principais razões para o elevado número de obras paralisadas no País.
A nível nacional, a província de Benguela, com 99% das obras paralisadas, lidera o ranking, já que das 946 obras visitadas pelo INE, sete estavam em construção e 939 estavam paradas. Segue-se o Uíge, com 98% das 499 obras visitadas a estarem paralisadas, enquanto apenas 8 estavam em andamento. Cabinda, com 153 obras visitadas, em que apenas 3 estavam em construção, fecha o pódio das províncias com a percentagem mais alta de obras paralisadas em todo o país, também com 98%.
Em sentido contrário, a província com o menor "rácio" de obras paralisadas é o Namibe, já que das 136 obras visitadas, 129 estavam em construção e apenas 7 estavam paralisadas, ou seja, apenas 5% estavam suspensas. Segue-se o Cuanza Sul, em que dos 149 "estaleiros" visitados, 113 tinha obras a decorrer e 36 estavam paralisadas, equivalente a 4% do total. Por fim, o Huambo teve 139 visitas do INE, que revelaram que 97 obras estavam em construção e 42 estavam paralisadas, ou seja 30%, o mesmo "rácio" que se verificou no Bengo, em que das 43 obras visitadas 30 estavam em construção e 13 estavam paradas.
Já em Luanda, que apesar de ser a capital do País foi a terceira a receber mais visitas das equipas do INE para a realização deste relatório, com a deslocação a 264 obras, em que 107 estavam em construção e 157 estavam paralisadas (59%).
Um total de 94% das obras visitadas pelo INE no mesmo período têm como destino a habitação e apenas 6% são "não residenciais", categoria que junta as construções para a indústria, comércio, hospitais, escolas, escritórios, igrejas e hotéis. Das 3.323 obras identificadas tendo como fim a habituação, 929 estão em Benguela (28%), 495 estão no Uíge (15%) e 256 (8%) estão em Luanda, 241 na Huíla e as restantes espalhadas pelas outras províncias do País.
Para o sócio gerente da Proimóveis, Cleber Corrêa, existem diferentes factores que têm contribuído para a paralisação de muitas obras em todo o País, com destaque para a desvalorização da moeda nacional, que encarece os materiais importados. Outros factores importantes que podem ter interferido no andamento das obras, segundo o gestor, têm a ver com a má orçamentação das empresas de construção civil e por último com o atraso nos pagamentos das empreitadas.
O acesso ao crédito é uma das saídas apontadas por Cleber Corrêa para que as empresas recuperem o ritmo anterior de construção. "Deve haver crédito mais favorável aos empresários do ramo", disse.