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Economia

Das mãos de um informático "brotou" uma horta sustentável

A POUCOS METROS DO PERÍMETRO DO AIAAN

A pequena empresa tira as vantagens da biologia, da sustentabilidade e da inovação tecnológica para aumentar o rendimento e tornar o cultivo de hortaliças mais previsível, além de desenhar "um modelo de negócios para um nicho específico do mercado". Biomart atende a 15 restaurantes em Luanda.

É no desvio do Mazozo, a poucos metros do perímetro do Aeroporto Internacional António Agostinho Neto (AIAAN), no Icolo e Bengo, onde nasceu, há dois anos, a Biomart, uma pequena empresa angolana que desafia a prática da agricultura tradicional e aponta caminhos para a inovação e a sustentabilidade agrícola no País, numa altura em que se fala do binómio segurança alimentar e mudanças climáticas no mundo.

A iniciativa produz hortaliças e ervas aromáticas (ervas de tempero) sem usar o solo, ou seja, as plantas recebem nutrientes necessários para o crescimento directamente da água, também conhecida como hidroponia.

Além de a hidroponia privilegiar a sustentabilidade, o cultivo em espaços reduzidos, menor uso de agrotóxicos e a economia de água, estudos indicam que pode produzir entre 3 a 10 vezes mais do que a agricultura convencional, o que a torna numa técnica do "futuro", embora já tenha mais de 100 anos.

A transição do cultivo em campo aberto para o cultivo em ambiente controlado surgiu em 2023, depois do fracasso na primeira aventura no sector agrícola do engenheiro informático Marco Aurélio Moco, após ter comprado um terreno de 7 hectares (ha) por 1.500.000 Kz, com a ideia de cobri-lo com melancia, tomate e beringela.

No entanto, o sonho que estava imbuído na divisa "diversificação económica do País" esbarrou nos custos de produção, sobretudo com a irrigação e combustível que eram (são) bastantes altos no sector, já que as vendas eram feitas no mercado informal, caracterizado por preços baixos, não compensando os custos de produção.

"Sofríamos roubos de tubagem e bombas de água. Usávamos automóvel pessoal para escoar os produtos no mercado informal", contou Marco Moco ao Expansão, que apesar de ter nascido num berço com raízes na agricultura (o pai cultiva café e cacau no Uíge e a família materna, cereais), não teve sucesso logo na primeira tentativa.

Foi assim que o informático desistiu do cultivo tradicional ao ar livre e apostou 150 milhões Kz na produção de alface, de manjericão e coentro, de salsa e alecrim ou de cebolinho e hortelã (menta) numa estufa de 630 metros quadrados comprada no Brasil.

Além da estufa, o valor serviu também para contratar serviços de um consultor brasileiro, bem como comprar uma carrinha frigorífica para escoar a produção com maior qualidade aos clientes, nomeadamente 15 restaurantes, como o Okupuyuka (Talatona, Luanda) ou o restaurante Ceano, na Ilha de Luanda, incluindo uma empresa de catering no sector petrolífero.

O dilema do financiamento

No investimento do projecto de cultivo em ambiente controlado, mais de 30% do valor foi financiamento pela banca comercial nacional.

"É sempre difícil conseguir crédito em Angola, pelo histórico do malparado, ou seja, antes os empresários recebiam créditos para projectos, mas compravam automóveis e ainda existe esta desconfiança, justificou Marco Aurélio Moco e acrescentou: no papel, o Estado tem boas políticas. Temos Fundo de Garantia de Crédito (FGC), temos o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA), mas só funcionam bem no papel.

A Biomart, que conta com 7 trabalhadores, fornece aos restaurantes mais de 4 mil unidades de hortícolas e ervas aromáticas mensalmente, com média de 40 gramas por unidade. Contas feitas, são mais de 160 Kg/mês e mais de 1.900 Kg/ano. Apesar de não revelar a facturação do negócio, o pequeno empresário assegurou que é rentável e já projecta duplicar a produção.

"Recebemos e-mails dos restaurantes com solicitação de produtos. Temos a vantagem de colher as hortaliças no dia da entrega, não precisamos conservar", afirmou. A estratégia de produção está, praticamente, alinhada aos pedidos de clientes.

Além de dar arranque à construção de outra estufa artesanal para duplicar a produção, a Biomart tem em mãos um projecto para abrir uma loja na centralidade do Kilamba para vender ao público "a preços mais baixos do que nos supermercados por ter uma produção eficiente", embora não haja uma data para este novo ciclo da horta em estufa sustentável.

Sustentabilidade

O projecto hidropónico da Biomart, localizado numa zona semiárida e quente, exige o uso de refrigeradores para reduzir a temperatura nas estufas e dificultar a proliferação de pragas nas culturas. No entanto, para conter os custos com refrigeração, a empresa investiu no uso de micro-organismos biológicos para o controle natural dessas ameaças. "Aqui tudo é biológico. Usamos microbactérias desenvolvidas para combater insectos ou fungos específicos, já que nem todos os insectos são prejudiciais à cultura", explicou.

Leia o artigo integral na edição 836 do Expansão, de Sexta-feira, dia 25 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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