Inflação mensal inverte marcha de queda e volta a acelerar
Subida da luz e da água em Junho mudaram a trajectória da taxa de inflação mensal que, em Maio, registou o valor mais baixo em 17 meses. Os preços deverão voltar a acelerar em Julho, depois do aumento dos preços do gasóleo e dos transportes. Aumento das propinas do ensino geral e das universidades no horizonte.
A inflação mensal a nível nacional, que estava a cair desde Janeiro, voltou a acelerar no mês de Junho para 1,21%, um aumento de 0,04 pontos percentuais face aos 1,17% registados em Maio, de acordo com cálculo do Expansão com base no Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Na base está, essencialmente, o aumento das facturas da luz em cerca de 50% para a maioria das famílias, bem como da água em 30%, verificado no mês passado, já que a classe "Habitação, água, electricidade e combustíveis" foi a que registou maior aumento em Junho, ao passar de 0,8% para 3,3%, o que representa um crescimento de 2,5 pontos percentuais (p.p). Com excepção das "Comunicações" (+0,8 p.p) e Mobiliário, equipamento doméstico (+ 0,06 pp), as restantes classes registaram uma desaceleração da subida dos preços.
Entretanto, já era esperado o aumento das tarifas da energia e da água, uma vez que o Governo já tinha inscrito no Orçamento Geral do Estado de 2025 que iria diminuir a subsidiação estatal nestes sectores, à semelhança do que tem feito no gasóleo.
Ainda assim, nos primeiros seis meses do ano, a classe da Saúde, que vale 3,4% dos ponderadores do IPCN que servem para medir a inflação, foi a registou maior aumento, com cerca de 10,2% em termos acumulados. Só desde 2020 até Junho deste ano, os preços na Saúde já cresceram 135,9%, o que significa que os preços das consultas e dos medicamentos são hoje quase proibitivos para a maior parte das famílias angolanas. São, em parte, os efeitos da desvalorização cambial, já que os medicamentos e os equipamentos médicos são importados.
Segue-se a classe Bebidas alcoólicas e tabaco, que vale apenas 3,4% do ponderador, cujos preços subiram 10,1% entre Janeiro e Junho deste ano. A fechar o top 3 das classes que mais viram os preços subir estão os Bens e serviços diversos, que acumularam 9,8% no primeiro semestre.
Já a classe Alimentação e bebidas não alcoólicas, que tradicionalmente é um dos sectores onde os preços mais crescem nos períodos em que o kwanza está enfraquecido face às principais moedas estrangeiras, viu os seus preços subirem 8,9% em seis meses. Se forem contabilizados desde 2020, os preços nesta classe de despesa, que vale 55,7% dos ponderadores do INE para a realização deste relatório, subiram 124,6%.
Por outro lado, as classes de despesa onde os preços menos subiram nos primeiros seis meses do ano foram a Educação (0,0%) - inexplicavelmente o INE apenas considera aumentos nesta classe no início de cada ano lectivo - as Comunicações (2,0%) e os Transportes (3,9%). Segundo o INE, a classe Transportes vale apenas 6,5% dos ponderadores do IPCN que servem para medir a inflação, o que significa que para o INE as famílias gastam apenas 6,5% do seu rendimento em transportes. No entanto, este valor hoje deverá ser bastante superior para a generalidade das famílias angolanas.
Subida nos Transportes e na Educação pressionam
Este cenário que se verificou nas classes da Educação e dos Transportes poderá ser diferente nas taxas de inflação dos próximos meses, prevendo-se já aceleração dos preços, tendo em conta que o início do mês de Julho ficou marcado com a subida do preço do gasóleo, que passou de 300 Kz para 400 Kz por litro, que consequentemente, levou à subida das tarifas dos transportes públicos colectivos urbanos. Os táxis colectivos (vulgo "candongueiros") passam a custar 300 Kz por corrida, face aos 200 Kz praticados anteriormente, ao passa que o bilhete de autocarro que custava 150 Kz sobe para 200 kz.
Também está previsto um ajuste do valor das propinas e emolumentos para o ano lectivo 2025- -2026 até ao limite de de 20,7%, o valor da inflação homóloga registada em Maio, segundo uma decisão conjunta da Associação Nacional do Ensino Particular (ANEP) e da Associação das Instituições do Ensino Superior Privadas Angolanas (AIESPA).
Tal como entende o economista Francisco Xavier Pedro, "é bastante plausível que a taxa de inflação volte a registar uma trajectória ascendente nos próximos meses". "O aumento do preço do gasóleo em 33% e dos transportes em 50% traduz-se num acréscimo dos custos logísticos e de produção em sectores vitais como a agricultura, o comércio e os serviços", apontou. Quanto ao aumento das propinas, o economista entende que indicia uma tendência de encarecimento dos serviços educativos. "Estes elementos correspondem a choques do lado da oferta, que, em economias com fraca capacidade de absorção produtiva e elevados custos de transacção, têm um impacto inflaccionista pronunciado", acrescentou.
Leia o artigo integral na edição 835 do Expansão, de Sexta-feira, dia 18 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)