Startup capta financiamento externo e projecta expansão do Wi-fi gratuito
Em 2015, a startup criou um modelo de negócio que consiste na implementação de pontos de internet grátis. Para usar a "net", o utilizador precisa assistir a um anúncio publicitário primeiro. Hoje, o "core" evoluiu para dados analíticos, importantes activos nas organizações na era da indústria 4.0.
A startup angolana WiConnect entrou para a história do ecossistema do empreendedorismo tecnológico angolano, ao captar financiamento externo de 2,5 milhões USD, em um cenário de difícil acesso ao investimento estrangeiro para pequenos negócios. Com este financiamento, a empresa projecta aumentar, nos próximos dois anos, mais 500 pontos de acesso de internet livre nos 326 municípios para aumentar o acesso à internet e fomentar a digitalização no País.
A empresa fundada em 2015 por Paulo Araújo e por Francisco Caculo, recebeu um finaciamento de Investidores Individuais de Elevado Património Liquido (HNWI, na sigla inglesa) dos Estados Unidos da América, Inglaterra e Portugal. A startup está presente em todas as províncias de Angola e conta, nesta altura, com mais de 800 pontos em todo o País, instalados com parcerias de instituições privadas e também com a iniciativa do Governo denominada AngolaOnline, que visa garantir sinal gratuito de internet em pontos estratégicos através da captação do Angosat II. Com a expansão que está projectada até 2027, poderá chegar a mais de 1.300 pontos de acesso a internet gratuita.
"Em termos de parceiros, já trabalhamos com o BAI, a Unitel, e também com o Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação (INFOSI) do projeto AngolaOnline, com o INAPEM e outros tantos parceiros privados e entidades governamentais. Já são mais de 800 pontos, mas ainda não é suficiente para o nosso País, que é enorme", explicou Paulo Araújo que largou a banca para "mergulhar" na WiConnet.
Angola tem actualmente uma taxa de cobertura de internet de 36%, abaixo da média africana que anda à volta dos 40%, segundo a Statista, plataforma alemã de análise de dados. Esta baixa taxa deve-se a infraestrutura subdesenvolvida e também ao fraco poder aquisitivo da população.
Em 2015, quando a WiConnect surgiu, a taxa de penetração era ainda mais baixa. Assim, a startup criou um modelo de negócio que consiste na implementação de pontos de internet gratuita. Para usar a internet, o utilizador precisa assistir a um anúncio publicitário primeiro. "As publicidades podem ser de bancos, seguradoras ou até mesmo anúncios do Governo. Após assistir ao anúncio, a pessoa consegue usar a internet por 30 minutos. Quando esse tempo acaba, o acesso é barrado e uma nova publicidade é exibida, o que permite outro acesso a internet por mais 30 minutos", explicou o empreendedor.
No entanto, o modelo de negócio é mais do que passar publicidade, foi arquitetado também para fazer inquéritos e compor bases de dados sobre hábitos dos consumidores, para analisar o nível de satisfação dos serviços ou mesmo passar uma mensagem governamental ou de empresa. Ou seja, o negócio da WiConnect é passar dados trabalhados para os parceiros.
Colocar publicidades nos acessos era, no início, a receita da start-up, como conta Paulo Araújo: "Até fomos forçados a ir por esse modelo, porque na altura (2015 - 2016) ainda não existia soluções de pagamentos online como hoje. E depois vimos que seria necessário ter uma pessoa em cada ponto de internet a vender vouchers, de acesso, o que não era viável. Então, vimos a proporção do mercado, as empresas têm necessidade também de comunicar com potenciais clientes. E as pessoas, em Angola, os cidadãos, têm necessidade de ter internet. Foi daí que juntámos os dois problemas e criámos, no fundo, uma solução, que hoje é a WiConnect".
Contribuir para digitalizar
O acesso à internet é um dos requisitos fundamentais para a digitalização da administração pública, da economia e da inclusão digital no País. O Plano de Desenvolvimento Nnacional 2023- -2027 aponta a 50% da taxa de digitalização dos serviços públicos até 2027. Angola é dos países mais atrasados no Índice de Desenvolvimento de Governação Electrónica (EGDI) da ONU, ocupando a 156ª posição numa lista de 193 países. Este panorama abre uma janela de oportunidade no mercado nacional e a WiConnect quer posicionar-se como um parceiro estratégico do Estado e das empresas privadas.
"Estamos prontos para as metas do PDN e do Livre Banco de Telecomunicações que visam aumentar a digitalização no País. Com isso, podemos viabilizar os pagamentos, melhorar o atendimento no sector da saúde e outros sectores. Por exemplo, o nosso primeiro grande cliente foi a Unitel. Fizemos um projeto deles, ainda no período da Covid-19, que foi implementar Wi- -Fi dentro de 110 hospitais públicos. Isso dentro da estratégia de responsabilidade social da operadora. Foi um projeto muito bom, funcionou muito bem. Foi vantajoso para Unitel, suponho", revelou.
Leia o artigo integral na edição 835 do Expansão, de Sexta-feira, dia 18 de Julho de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)