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E este é um ponto fundamental para virar esta página. Sem mudar a abordagem económica da Nação, vamos continuar a ficar mais pobres todos os anos, apesar de uma classe ficar mais rica. Não vale a pena continuar a fazer manobras de propaganda para justificar que está tudo bem. Perdemos todos.
As pilhagens em Luanda são absolutamente condenáveis, e os envolvidos devem ser penalizados de acordo com a lei e com o grau de envolvimento nos delitos. As consequências vão afectar todos e os benefícios foram recolhidos apenas por uma minoria. Mas também é importante perceber as causas que levaram a estas acções, porque é a única forma de evitar que se repitam. E não é a atirar as culpas para um político português, para a oposição, ou para agentes externos que querem destruir a nossa soberania, que vamos evitar a repetição deste fenómeno. Mesmo aqueles que acreditam que este foi um protesto organizado e preparado é necessário perceber porque é que a população respondeu daquela forma. E porque é que vários casos de pilhagem tiveram a adesão das forças da ordem pública, que se limitaram a assistir ou mesmo a participar nos saques.
Embora não tenha havido, até esta madrugada de quinta-feira em que escrevo, uma declaração pública do Presidente da República e de o ministro do Interior ter falado apenas na quarta-feira à tarde, a seguir ao Conselho de Ministros, tenho a certeza que todo o Governo está a tentar fazer uma leitura correcta das causas que levaram a que o protesto atingisse esta dimensão. Parece claro que a pobreza e a pouca qualidade de vida dos cidadãos teve influência, o facto de os jovens não verem um caminho para o futuro, muitos estão a emigrar e esse é um sinal, teve bastante influência.
Por um lado, e já escrevi várias vezes, a política económica é desajustada para o País, asfixia os pequenos e médios empreendedores, que na verdade são os maiores geradores de emprego, e de uma distribuição da riqueza mais justa. Privilegia empresários e negócios que concentram os recursos em meia dúzia, muitos deles não reinvestem no nosso território os ganhos, exportam-nos, e por isso mesmo não contribuem para o consumo interno e para o desenvolvimento social das populações. Não estou a falar obrigatoriamente de estrangeiros, mas também de alguns angolanos.
E este é um ponto fundamental para virar esta página. Sem mudar a abordagem económica da Nação, vamos continuar a ficar mais pobres todos os anos, apesar de uma classe ficar mais rica. Não vale a pena continuar a fazer manobras de propaganda para justificar que está tudo bem. Perdemos todos.
Depois o Poder não pode manter esta postura arrogante de não ter proximidade com as diversas classes sociais e profissionais, fechar-se num mundo de Lexus e viagens para Lisboa e o Dubai, passear com batedores nas ruas de uma capital onde existem pessoas a alimentar-se nos caixotes do lixo. Expôr a riqueza na cara de quem luta para sobreviver, não é certamente uma boa estratégia.
Promover a inclusão parece-me ser o primeiro caminho, trazer a população para perto de quem governa, e não estou a falar dos CAPs, mas dos empreendedores, dos jovens que têm uma opinião que quer ser ouvida, que querem construir um País em que sintam que também fazem parte.
E, por último, utilizar condignamente os recursos do País. Não se pode continuar a gastar milhões em coisas que não servem para nada, apenas para afagar os egos pessoais, em vez de os colocar na resolução dos problemas básicos das pessoas e da nossa economia. Temos de ser mais humildes, solidários, patriotas, preocupados com o bem comum. Todos, sem excepção.