Educação deixa de publicar dados sobre acesso à água e energia nas escolas públicas
Com a necessidade de melhorar o processo de aprendizagem e formação social, é preciso também investir no acesso à internet e à tecnologia em geral no sistema de ensino público, bem como evitar os projectos faraónicos.
À terceira edição do "Anuário Estatístico da Educação" surgem as primeiras mudanças de fundo na forma como a informação é disponibilizada ao público: se nas primeiras edições o Ministério da Educação partilhava dados concretos sobre o acesso a água, energia eléctrica, campo de jogos e outros serviços básicos, a publicação sobre o ano lectivo 2022-2023, a última disponível, já não traz qualquer abordagem específica sobre estes importantes elementos.
A maioria dos especialistas em educação defende que a escola não deve ser apenas um local de aprendizagem curricular e que o ambiente escolar em geral é fundamental para cumprir o ideal de educação e para cultivar ideias de integração e desenvolvimento social.
"O anuário falha na contextualização em geral sobre o sistema de ensino. É certo que temos mais escolas, mas no relatório algumas unidades aparecem listadas como funcionais só que, na realidade, nós sabemos que operam ou funcionam sem corrente eléctrica ou casas-de-banho em condições", assegura Lando Pedro, presidente do Instituto Superior Universitário Nimi ya Lukeni, no Soyo, província do Zaire.
"É importante também que o Estado passe a olhar, quando se aborda a expansão do ensino, para a questão da inclusão ou da necessidade, por exemplo, das bibliotecas, laboratórios e outros equipamentos essenciais. Mais de 60% das escolas listadas no anuário estatístico não tem bibliotecas ou laboratórios", refere o especialista em educação, que assinala ainda outro elemento importante nos tempos que correm: o acesso à internet e à tecnologia em geral no contexto escolar.
"Devemos evitar certos paradoxos, como é o caso da tecnologia sem acesso. Actualmente, falamos muito de tecnologia, mas não existem projectos de digitalização educativa. Por exemplo, 60% das escolas rurais não tem internet ou computadores. Esse elemento da expansão da tecnologia deve sempre ser acompanhado por projectos de digitalização da escola, de acesso à internet, de instalação de computadores", defende Lando Pedro.
Entre outras propostas, há quem defenda a criação urgente de um sistema nacional de avaliação e educação independente, com métricas bem definidas de desempenho dos gestores, dos professores e alunos, bem como priorizar os investimentos em infraestrutura, para melhorar o acesso a serviços básicos (água, energia, entre outros). "E evitar projectos faraónicos", sublinha Pedro, que propõe ainda a integração dos professores na formulação das políticas para o sector.
"Nestes relatórios não estamos a avaliar as escolas, estamos a contar as escolas. Para o que nós queremos, a qualidade não é avaliada pelos números, mas sim pelo que fazemos naqueles espaços, dentro das escolas", conclui Lando Pedro.