Botswana mantém negociações para adquirir maioria do capital da De Beers
A saga que envolve os maiores produtores africanos de diamantes e a tentativa de controlar o mercado a partir de África teve novos desenvolvimentos, mas o negócio parece longe de estar concluído.
O presidente do Botswana, Duma Boko, reiterou durante a semana o plano do seu governo de adquirir uma participação maioritária na De Beers, que é controlada pela Anglo American, que procura vender a sua participação de 85% na conhecida diamantífera, que é uma das principais empresas mundiais do sector.
"O governo vai alavancar [as negociações] por uma participação maioritária", confirmou Duma Boko na segunda-feira, 10, durante o seu discurso de "Estado da Nação" na capital do Botswana, Gaborone. "Medidas concretas estão em andamento para a aquisição das acções da Anglo American na De Beers", reforçou Boko.
"Embora esta administração esteja a promover a diversificação do sector mineiro, os diamantes continuarão a ser um dos principais contribuintes para o crescimento económico e a transformação do nosso país", sublinhou. Em Setembro, o Presidente do Botswana disse à Bloomberg que desejava concluir um acordo até final de Outubro e confirmou negociações com diversas partes, incluindo com o Fundo Soberano de Omã, para financiar a aquisição.
No entanto, Duma Boko enfrenta a concorrência da Endiama e de Angola, ao contrário das expectativas iniciais, o que motivou um encontro com Diamantino Azevedo, ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET), que aconteceu em Gaborone, na sexta-feira, 7, e envolveu também José Ganga Júnior, PCA da Endiama.
No final da reunião, os representantes angolanos afirmaram que as duas nações estão "perfeitamente alinhadas" em relação à De Beers e focadas em "reactivar o mercado internacional de pedras naturais".
Até ao momento, nem a Endiama, nem o MIREMPET, explicaram a origem do financiamento para adquirir 85% da De Beers, que deve rondar os 4,25 mil milhões USD. A empresa registou prejuízos de 3,5 mil milhões USD nos últimos dois anos.
Em Setembro, Diamantino Azevedo tinha anunciado a intenção de adquirir uma participação minoritária, que visava estabelecer uma parceria significativa entre Angola, Botswana, Namíbia e África do Sul, garantindo que "nenhuma parte detenha domínio exclusivo e que a empresa possa evoluir como uma entidade comercial verdadeiramente internacional".
"O governo angolano esclarece que a proposta ora submetida não visa o controlo maioritário da De Beers. Pelo contrário, defende-se a constituição de um consórcio panafricano, liderado pela indústria, que garanta a independência e a competitividade internacional da referida empresa", acrescentou.
Os elementos-chave da proposta angolana passariam por um modelo de propriedade independente e diversificada, pela criação de uma parceria pan-africana, pelo histórico de Angola como um dos maiores produtores mundiais de diamantes em 2024 e o único país a inaugurar uma mina de classe mundial nos últimos 15 anos. Esta estratégia de parceria regional, com participações minoritárias, foi abandonada. Mais tarde, durante a apresentação da proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) 2026, a ministra das Finanças afirmou que o governo não vai financiar directamente a proposta de aquisição, pela Endiama, de uma participação maioritária na diamantífera De Beers.
"Posso garantir que não há nada sobre esse tema no OGE 2026", disse Vera Daves de Sousa. "Vamos assumir que a Endiama tem peito para tomar uma decisão desse género, porque garanto que o financiamento não vai sair do OGE. É tudo o que posso dizer nesta altura", sublinhou a ministra das Finanças no dia 31 de Outubro, em Luanda.











