A luz do sol
Não vale a pena insistirmos numa sociedade a viver em várias clouds, com realidades tão diversificadas que retira a muitos a capacidade de análise, o pensamento crítico, a vontade de fazer melhor. Isto porque, quer se queira, quer não, estamos a condenados a viver juntos.
Esta linguagem do "eu sei, eu faço, eu guardo no bolso, eu decido, eu, eu, eu..." não faz bem a um País que precisa de todos para se desenvolver. Não que seja mentira, mas porque para manter a confiança de todos no processo também é necessário que todos sintam que fazem parte da solução. Mesmo que na prática não tenham importância nenhuma, um pouco de menos luz permite ver melhor os objectivos, pois esse imenso brilho encandeia, e em vez de ser positivo, passa a ser excessivo, desaconselhável. Mas os "mestres" da comunicação deviam saber disso e funcionar como conselheiros quando a tendência é aumentar a intensidade da luz.
A vida de um País é a soma do contributo de todos e não apenas as palavras e as vontades de alguns, e mesmo que sejam repetidas muitas vezes, escritas e lidas em voz alta, as realidades passadas não se mudam. Muda-se apenas o aspecto e nunca a essência. As coisas estão aí e as verdades dizem-se, falam-se, mesmo que seja em surdina, com medo e ambientes fechados. Como dizia um conhecido filósofo alemão, "as injustiças não duram para sempre e as mentiras não são colectivas".
Objectivamente, quando olhamos para o nosso percurso enquanto País, temos de ter a frontalidade de dizer que muita coisa foi feita, mas também a coragem de admitir que muitas mais coisas ficaram por fazer. Que não conseguimos dar dignidade e condições de vida à maioria da população. É verdade, já temos um satélite no espaço, mas ainda não conseguimos garantir internet fiável e segura a todos. Que somos independentes e livres, mas a comunicação social pública e muitas instituições continuam a ser controladas de forma centralizada e sem direito à diferença de opinião.
Não vale a pena insistirmos numa sociedade a viver em várias clouds, com realidades tão diversificadas que retira a muitos a capacidade de análise, o pensamento crítico, a vontade de fazer melhor. Isto porque, quer se queira, quer não, estamos a condenados a viver juntos. No mesmo espaço geográfico. Para os que se preparam para passar os últimos dias da sua vida lá fora, a gozar os privilégios que entretanto transferiram, isso não é um problema. Mas para os que vão e querem cá ficar, deve ser um motivo de profunda reflexão.
Resumindo, temos de ter um País melhor, ter pensamento colectivo, dar educação e saúde a todos, fazer muito melhor. E não é continuando a fingir que está tudo bem, que isto acontece. E, já agora, ninguém é dono da luz do sol. Nasce todos os dias e para todos.