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Grande Entrevista

"O Estado tem de canalizar o dinheiro público, que é limitado, para onde não há ninguém a investir"

António Nunes CEO da Angola Cables

O Presidente executivo da Angola Cables defende a intervenção mínima do Estado nas telecomunicações e o desagravamento da carga, nomeadamente fiscal, que deve ser assumida pelos agentes privados no desenvolvimento daquele que é o mercado que mais evoluiu, na última década, em Angola.

Como avalia o mercado angolano de telecomunicações?

O mercado angolano de telecomunicações, hoje, tem um dilema muito grande. Fizemos uma privatização do mercado há alguns anos e, como consequência, houve uma evolução. Na minha óptica, o mercado que mais cresceu nos últimos 10 anos em Angola foi o das telecomunicações. Mas vendemos pouco a imagem no mercado internacional com o que se fez nas telecomunicações.

E nestes últimos anos?

Estamos a ver uma reversão do processo de privatização. Hoje estamos a ver o Estado outra vez a tomar suporte e valor das operadoras de telecomunicações nacionais. E isso resulta naturalmente num grande conflito de interesses. Fica por saber quem é o jogador e quem é o árbitro.

Isso prejudica o mercado?

Sim. O Estado deveria deixar o privado investir onde as telecomunicações têm rentabilidade. Porque se estamos a olhar para uma economia de mercado, o investidor só vai colocar dinheiro no local onde tem taxas de rentabilidade, porque se não tiver rentabilidade não investe. Fica com o dinheiro no bolso ou procura outras paragens. O lógico do ponto de vista de uma economia aberta é o Estado deixar o mercado funcionar, intervindo em casos específicos, sobretudo na regulação. Agora, se temos o Estado a concorrer com o privado na recolha de mais-valias, o privado já não vai investir.

Está a falar da Angola Telecom e da Unitel?

Estou a falar na generalidade do mercado. Se olharmos hoje para o sector das telecomunicações vamos ver que todas as empresas de referência no mercado nacional são maioritariamente do Estado. Isso não tem benefícios para que o próprio mercado tenha capacidade de crescimento. Quem entra no negócio de telecomunicações tem de ser alguém que tem capacidade financeira suficiente para suportar a evolução do mercado, porque este negócio é feito sobre investimento. Ou seja, para crescermos temos de investir no próprio crescimento. E temos dois tipos de operações.

Quais?

Temos a rede móvel que cresce em função da sua base de clientes e o seu custo também cresce em função dessa base. Um ganho de escala. Os operadores de telefonia móvel são operadores que à medida que a sua base de clientes evolui vê os seus custos evoluir também.

O mercado móvel está prestes a receber mais um operador. Isso não é bom?

Prevemos uma melhoria do consumo. Agora, qual é o factor diferenciador neste processo? Uma das coisas que temos hoje, relativamente aos restantes mercados africanos, é que Angola tomou uma postura arrojada de se definir como um hub de telecomunicações no continente. Isso tem um preço, e quem paga este preço é o próprio mercado. O custo das infraestruturas internacionais para Angola tem uma componente que tem a ver com o seu posicionamento estratégico. E hoje queremos ter comunicações de baixo custo, boa qualidade e posicionamento internacional.

Não é possível termos este triângulo?

Hoje temos posicionamento estratégico, boa qualidade de comunicação. Agora, comunicações a baixo custo, não temos.

Porquê?

Porque alguém tem de pagar o custo disto tudo. E temos dois
aspectos: ou é o Estado a pagar, ou é o mercado. Nas infraestruturas, temos as autoestradas de comunicações criadas, circulamos com um tráfego com maior qualidade para o País. Agora tem de ser o País a aproveitar isso.

Não é aproveitado?

Não. Porque a qualidade não é igual em todas as províncias do País. O consumo de tráfego de internet em Angola não pode estar restrito a Luanda. Porque se estiver restringido a Luanda o consumo que conseguimos debitar em Angola é pouco. Hoje conseguimos vender o tráfego de internet, que o mercado se queixa que é muito alto, por causa da infraestrutura que alguém tem de pagar. Para fomentarmos o consumo temos de baixar o valor.

Leia a entrevista completa na edição digital, disponível em: https://leitor.novavaga.co.ao/...