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Grande Entrevista

"Vamos fornecer energia a quem não tem acesso à rede. Para nós, isto é o futuro"

Martin Deffontaines , director-geral da Totalenergies Angola

A conversa com o Expansão permitiu olhar para o presente e futuro das empresas de energia, que enfrentam uma disrupção sem precedentes devido à transição energética. Mas a exploração de petróleo e gás está ainda longe dos seus últimos dias de vida.

A TotalEnergies está a comemorar 100 anos de vida, um número redondo e um marco importante. É também uma longa caminhada em Angola, onde estão presentes há 70 anos. De que forma Angola se interliga com este século de actividade e de exploração petrolífera?

Bem, há várias coisas para dizer. Os 100 anos de actividade são algo especial para nós. Estamos a celebrar todos os desafios que enfrentamos ao longo destes 100 anos. Gostamos muito do nosso espírito de pioneiro, que é parte da nossa identidade. Começamos no Médio Oriente com muitos desafios tecnológicos, mas os maiores desafios foram mesmo as questões geopolíticas. Para uma empresa francesa, investir no Iraque foi um processo difícil. Depois do Iraque fomos para a Argélia, onde construímos alguns campos no mar. Isso foi há um século atrás. Em Angola, há 70 anos, entramos com a FINA. Depois, há cerca de 30 anos, avançamos para as águas profundas (deep offshore). Foi em 1992 que obtivemos autorização para explorar o Bloco 17.

Que até hoje é um dos maiores projectos petrolíferos em Angola.

E também é um dos maiores do mundo em águas profundas. Até agora já produzimos 4 mil milhões de barris entre os blocos 17 e 32. Para mim, estes dois casos corporizam o tal espírito pioneiro que gostamos de colocar em cima da mesa. Fomos nós que fizemos a primeira FPSO [sigla em inglês para Unidade Flutuante de Armazenamento e Transferência] àquela profundidade, a primeira separação subsea. Eu sou um engenheiro e, para mim, são avanços incríveis.

Quais foram as grandes mudanças no sector ao longo destes 100 anos?

Agora conseguimos colocar equipamentos no mar a uma profundidade de 1,5 quilómetros. Tudo é controlado remotamente, o que também foi uma grande inovação no mundo. Nós temos orgulho nesta história. É por isso que dizemos que hoje somos grandes, é verdade, mas só conseguimos chegar até aqui devido aos desafios que ultrapassamos, à audácia que tivemos para desenvolver processos que não existiam antes. A primeira exploração em águas profundas foi criada aqui em Angola, tal como o primeiro sistema de separação subsea. Nós fomos premiados internacionalmente por estes projectos. Estou há 30 anos na empresa e, sendo um engenheiro de formação, sou muito sensível às mudanças que ocorreram na indústria.

É uma vida dedicada à empresa.

Ao longo de 30 anos já trabalhei em diversos países. Já fui director-geral no Congo e também no Iémen. Penso que há dois tipos de pessoas na TotalEnergies: aquelas que são mais da superfície e as que são mais das profundezas.

Onde se enquadra melhor?

Eu sou da superfície. Os melhores momentos da minha vida foram passados nas plataformas offshore a gerir equipas e a tentar melhorar a gestão de riscos. O que a nossa empresa faz, basicamente, é gerir riscos, é tentar reduzir ao máximo as situações que possam ter uma influência negativa na nossa actividade.

As operações no alto mar são desenvolvidas num ambiente difícil e desafiador. E também pouco humano, talvez, porque os seres humanos não vivem no mar.

Sim, é como estar numa ilha, numa ilha artificial, mas que é mais humana do que as pessoas julgam. Numa plataforma offshore trabalham 200 pessoas, aproximadamente, que precisam de viver e funcionar em equipa. É fascinante. Em Angola, começamos por investir no onshore da Bacia do Kwanza mas, neste momento, estamos num processo de transformação, com o lançamento da primeira central fotovoltaica privada de produção de energia em Quilemba, perto do Lubango, onde vamos processar 35 megawatts.

Uma parceria com a Sonangol.

Sim. É uma iniciativa também muito importante para a empresa, porque vamos fornecer energia eléctrica a pessoas que não estão conectadas à rede nacional de energia. Então, para nós, isto é o futuro.

Leia o artigo integral na edição 769 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)