Dezenas de crianças trocam a escola pela recolha de lixo nos Mulenvos
A luta pela sobrevivência leva homens, mulheres e crianças a lutarem por uma pedaço de lixo no aterro sanitário dos Mulenvos. Muitos vivem mesmo no local, outros chegam diariamente por volta das 5 horas da manhã. Para os mais novos, que abandonaram a escola, as marcas vão ficar para toda a vida.
O ambiente no aterro dos Mulenvos é aterrador. Homens, mulheres e crianças lutam por um pedaço de lixo cada vez que é feita uma descarga, sendo que, no entanto, são apenas peças de um esquema muito maior que alimenta centenas de angolanos e que proporciona lucros difíceis de quantificar para alguns. Mas também garante sustento a muitas famílias.
A reportagem do Expansão teve oportunidade de confirmar no local que um número crescente de crianças e de adolescentes abandona a escola para procurar "sustento" no aterro sanitário dos Mulenvos, no município de Viana. Passam horas a vasculhar resíduos à procura de materiais recicláveis que possam ser vendidos, garantindo, assim, algum dinheiro para ajudar as suas famílias. O que tem valor são fundamentalmente alimentos degradados ou fora do prazo que pequenas lojas e supermercados deitam fora, roupas que ainda podem ser aproveitadas, resíduos metálicos que são depois vendidos ao peso, garrafas, embalagens e sacos plásticos, madeiras e outros equipamentos que possam ser recuperados.
Na primeira linha da recolha do lixo estão os mais novos, muitos são menores de idade, com evidentes riscos para a saúde, exposição a substâncias tóxicas e condições de trabalho degradantes. Uma "mistura explosiva", que terá certamente impacto negativo no seu futuro.
Esta prática é estimulada pelos pais destes meninos, que, na maioria, estão desempregados e vivem em "casas de controlar" (uma residência que pertence a alguém, mas onde outra pessoa mora para cuidar dela).
Aliás, a reportagem do Expansão encontrou várias famílias, pais, mães, filhos e sobrinhos, que trabalham juntos na recolha e separação do lixo. Dona São foi uma das únicas catadoras que aceitou falar à nossa reportagem.
Contou ao Expansão que o rendimento diário depende muito da quantidade e qualidade do material recolhido. Em dias bons é possível conseguir até 10 mil Kz, mas o comum é arrecadar entre três e cinco mil Kz. "Sei que o lixo faz muito mal à nossa saúde, mas vale mais isso do que não ter nada para comer. Não há emprego para nós que não estudámos, então temos que nos virar desta forma, mesmo que seja recolhendo lixo", afirmou.
Segundo a Dona São, há muitos conflitos entre os catadores devido ao próprio lixo. Muitas vezes, algumas pessoas tentam aproveitar-se de resíduos que não recolheram e pelos quais não fizeram esforço algum. E também, explica, já existem grupos organizados que tendem a fazer pressão sobre aqueles que são novos na actividade, porque quantos menos estiverem nos Mulenvos, maiores serão as suas probabilidades de ganharem mais dinheiro.
Leia o artigo integral na edição 827 do Expansão, de Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)