Millennium Atlântico "inaugura" fusões na banca em Angola
O banco que resulta da fusão entre o Millennium Angola e o Atlântico vai nascer em 2016 e será o quinto maior em depósitos e o terceiro em crédito. Nova instituição vai dispersar 33% do capital em bolsa.
Nasce formalmente em 2016 e resulta da primeira fusão do sistema bancário angolano. O Millennium Atlântico - fruto da junção entre o Banco Millennium Angola (BMA) e o Banco Atlântico, anunciada há uma semana - será o quinto maior banco no País em quota de mercado de depósitos e o terceiro em total crédito líquido.
A fusão, prevista num memorando de entendimento assinado entre os dois bancos no passado dia 8 de Outubro, será ainda alvo de aprovação em assembleia geral do BMA e do Atlântico, e terá de receber 'luz verde' das entidades regulamentares e de supervisão. O Atlântico é, actualmente, o sexto maior banco em Angola em termos de crédito e de depósitos, com quotas de mercado de 7% e de 6%, respectivamente.
O BMA, por seu turno, é o sétimo maior banco do sistema bancário angolano em crédito e o nono em depósitos, com quotas de mercado de 4% e de 3%, respectivamente. Segundo dados de 31 de Dezembro de 2014 compilados pelo Expansão, o novo banco deterá activos da ordem dos 620 mil milhões Kz, tornando-se no quarto maior do País, excluindo o Banco Económico. Este banco, que sucedeu ao BESA, recorde-se, ainda não publicou contas.
Cálculos do Expansão apontam para activos do Económico entre 600 e 700 mil milhões de Kz, o que quer dizer que os dois bancos ficarão muito próximos. No final do ano passado, o Atlântico apresentava activos de 373,3 mil milhões Kz, sendo o quarto do ranking, excluindo o Banco Económico, e o Millennium Angola, 244,7 mil milhões, o oitavo.
As duas instituições, aliás, já tinham participações cruzadas, sendo mesmo as únicas do País com esta particularidade. O Atlântico detinha 15% do Millennium Angola, e este detinha 6,7% do Atlântico. Além do BMA, eram accionistas do Atlântico a Global Pactum (72,35%), Carlos Silva, PCA e CEO da instituição (19,32%), além de dois administradores, Paulo Marques e Mário Cruz (ambos com 1%). Já o BMA tinha como accionistas, além do Atlântico, o Millennium bcp português (50,1%), a Sonangol (29,9%) e a Global Pactum (5%). Recorde-se que o Atlântico chegou a anunciar a fusão com o VTB, instituição angolana detida pelo banco russo com o mesmo nome, mas a operação não avançou.
Recentemente os russos comunicaram que já não se realizaria. O Millennium Atlântico deverá dispersar 33% do seu capital em Bolsa, em Angola, explica um comunicado do Atlântico que anunciou a fusão.
"Esta decisão de colocação de capital em bolsa revela uma interpretação adequada dos dois bancos do espírito e da dinâmica que têm marcado os recentes desenvolvimentos no Mercado de Capitais em Angola", indica o documento, sem especificar a data em que o IPO arranca.
Recorde-se que a Comissão do Mercado de Capitais prevê o arranque da Bolsa de Valores angolana no final de 2016. "O Millennium Atlântico terá um dos maiores níveis de Fundos Próprios do sistema financeiro angolano, com um valor superior a 800 milhões de USD, o que permitirá reforçar a capacidade de financiamento às famílias, às empresas e aos projectos estruturantes, que contribuem para o fomento da sustentabilidade" do País, diz o comunicado.
A nova instituição "posiciona-se como o líder no programa Angola Investe, com uma quota de 30%, e é o segundo maior banco privado em Angola no volume de crédito às famílias e às empresas", adianta. "Com mais de dois mil colaboradores, centena e meia de sucursais e mais de meio milhão de clientes, a nova instituição cria sinergias e ganhos de escala, que permite disponibilizar uma oferta ainda mais direccionada para os desafios e necessidades das famílias, onde se inclui o forte compromisso no crescimento da inclusão bancária, através da sua rede nacional e através de soluções tecnológicas de banca digital", explica o comunicado.
De acordo com uma nota do Millennium bcp, no âmbito do memorando de entendimento ficou definido que a nova instituição terá um conselho de administração composto por 15 membros, dos quais cinco nomeados pela instituição portuguesa, e uma comissão executiva com sete elementos, dos quais dois indicados pelo BCP.
O banco luso, que deverá ficar com cerca de 20% no Millennium Atlântico, "indicará ainda um dos vice-presidentes do conselho de administração, o qual presidirá à Comissão de Riscos ou à Comissão de Auditoria, bem como um dos vice-presidentes da comissão executiva", diz a nota.
Com Carlos Rosado de Carvalho