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Opinião

O desafio agrícola

Editorial

Tal como nos diz em entrevista o Ministro da Agricultura, o desafio agrícola, o aumento da produção primária, a substituição das importações, é uma questão de todos, de cidadania.

Desde os anos 80 que muitos concordam que os agrodólares deviam tomar o lugar dos petrodólares, e que aproveitando as condições do País podíamos com alguma rapidez ser auto-suficientes em produtos alimentares. Passaram mais de 30 anos, e aqui estamos outra vez a falar que é agora que as coisas vão mesmo para a frente, mas ainda só produzimos 30% do que comemos.

Ainda ontem ficámos a saber que nos dez primeiros meses do ano gastaram-se 1,34 mil milhões de dólares em produtos alimentares. Como um dado que salta aos olhos, o País gastou mais de 186 milhões na importação de óleo palma. Quem diria que é o terceiro alimento com maior valor, logo a seguir ao arroz e à carne de frango? Pelo menos de acordo com a informação veiculada pela agência nacional de notícias.

Mas quando se fala de uma questão de todos, é em todos que este esforço deve começar. Como consumidores. Preferir produtos feitos em Angola. Mas comprar mesmo. Não deixa de ser curioso, que num grupo de produtos tão simples como os frutícolas, muitos dizem que a nossa fruta tem mais sabor, é melhor, mas depois vemos os carrinhos nos supermercados cheios de maçãs e peras importadas, mangas do Brasil, enquanto as nossas bananas vão amadurecendo nos lineares. O mesmo se passa com as alfaces, os tomates ou as cebolas. A mudança de mentalidade enquanto consumidores é muito importante.

O mesmo se passa com a valorização da classe dos agricultores. Se ser advogado ou economista é sinónimo de estatuto social, ser agricultor é sinal de pobreza. O mito que a agricultura não é rentável também começa em nós. Quantos agricultores aparecem nos nossos meios de comunicação a falar ou opinar? Que credibilidade lhes damos enquanto cidadãos que podem contribuir para o desenvolvimento do País para além de produzirem milho ou mandioca? Como vamos levar os jovens para esta actividade se passamos a ideia que aquilo é a "pior e mais trabalhosa" forma de ganhar a vida?

A valorização da profissão de agricultor começa também em nós todos, que vivemos na cidade e temos a mania que somos mais importantes que aqueles que vivem nos meios rurais. Por isso entendo o ministro quando diz que a agricultura é um desafio de todos. Também acho. Comecemos por garantir luz, água potável e saneamento a todos. Ou pelo menos a acreditar convictamente que eles também merecem, como todos os outros cidadãos que vivem nas periferias das cidades.

Editorial da edição 554 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Dezembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.