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Opinião

O Executivo precisa de ter uma estratégia de complementaridade dos investimentos

Milagre ou miragem?

Na semana passada, tomámos boa nota da inauguração de uma fábrica de montagem de electrodomésticos, como televisores, fogões, aparelhos de AC, geleiras e arcas num investimento global de 15 milhões USD. Realçamos aqui que os promotores deste investimento começaram a actuar no mercado nacional como importadores e revendedores desses produtos.

O que se verificou agora é o que se deseja, i.e., que os importadores passem a produzir localmente grande parte dos produtos que comercializam, especialmente neste período de crise. O facto de o País ter começado a montar electrodomésticos é um sinal positivo. Esperamos agora que outros grandes importadores de bens de consumo adoptem a mesma estratégia.

Um dos problemas que muitas das fábricas localizadas no pólo industrial de Viana enfrentam prende-se com a ausência de um fornecimento regular de água e luz, apesar de o canal do Kikuxi estar ali próximo e de existirem subestações de electricidade em Viana. Claro, não podemos deixar de assinalar a ausência de infraestruturas de saneamento básico, como um sistema de drenagem das águas fluviais. Estas deficiências prejudicam o funcionamento das unidades fabris neste pólo. Quem produz nestas condições acaba por ter um custo maior e um produto menos competitivo, incapaz de penetrar nos mercados externos.

A produção de bens de consumo em Angola contribui em muito para a redução da pressão que a importação exerce sobre as reservas cambiais do BNA. Todavia, tal como a linha de montagem de tractores na ZEE, os electrodomésticos que vão ser produzidos nesta nova "fábrica" não são verdadeiramente "Feitos em Angola" já que tudo é importado. Esta distinção entre montar em Angola e produzir, num contexto em que os componentes existem no mercado local, não pode ser esquecida. Infelizmente, na ânsia de mostrar algum resultado, o Executivo parece ignorar a pertinência desta distinção.

Neste espaço, temos indicado que um dos grandes problemas da governação em Angola tem sido a incapacidade de assegurar uma certa complementaridade dos investimentos existentes. Tal como sugerimos num outro texto, "Com visão e perspicácia, a montagem de tractores pode revolucionar o sector produtivo", é necessário que o Executivo fomente a inserção de conteúdo local. Como é que isso pode ser feito? Ora bem, o Executivo precisa desafiar os promotores deste projecto de investimento a adquirirem em Angola, nos próximos 5 anos, pelo menos 90% dos componentes de que precisam para montarem os electrodomésticos. Caso essa meta fosse atingida, os promotores poderiam ter acesso a incentivos, por ex., prioridade na contratação pública.

*Docente e investigador da UAN

(Leia o artigo integral na edição 595 do Expansão, de sexta-feira, dia 9 de Outubro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)