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Opinião

Islamização do continente africano: terrorismo e o caso moçambicano

Convidado

""Não é orgulho vazio, é sentido de soberania"", exclamou o Presidente Nyusi, sublinhando que o combate armado tem de ser feito pelos moçambicanos.

Na verdade, a ideia de ingerência nos assuntos internos, por um lado, pode tirar o sentido latíssimo de soberania plena de um Estado, seja no âmbito político como no âmbito económico e social, mas a ingerência nos assuntos internos, por outro lado, também pode ser vista como uma ajuda iminente, principalmente em situações tenebrosas. Só que esta ajuda, na maior parte das vezes e tal como aponta a evidência empírica, não é grátis, pois há sempre alguém com o objetivo de tirar dividendos, porquanto estes dividendos podem ser baseados nos recursos que o país tem, ou ainda atirá-lo para uma dívida externa quase sem fim. Esta é na minha leitura epistemológica a explicação mais plausível em relação ao pronunciamento do Presidente moçambicano.

Islamização do Continente africano

Todavia, no que diz respeito exclusivamente à islamização do continente africano é, de facto, uma situação extremamente delicada, porque é por meio da religião islâmica que os grandes grupos terroristas extremistas como o Boko Haram, a Al-Qaeda, o Jihad Islâmico e o Al-Shabaab, se têm espalhado como ervas daninhas no continente africano e, para justificar esta minha afirmação, tenho em vista três estudos de casos, a saber; Nigéria, Sudão e Somália.

01º Na Nigéria por exemplo, o Boko Haram consolidou-se em 2002, com a retórica de purificar o Islão no norte da Nigéria, mas a partir de Março de 2015, percebeu-se que o objetivo não era só este, quando se alinhou ao Estado Islâmico do Iraque, que adoptou o nome de Estado Islâmico na África Ocidental. Todavia, nas décadas de 2000 e 2010, a economia da Nigéria cresceu mais de 5% em todos os anos, estando próximo dos 15% em 2002 e, no princípio de 2016, a previsão do FMI (Fundo Monetário Internacional), era de 4% de crescimento, só que, no segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) da Nigéria recuou 2%, evidenciando assim a sua primeira recessão económica em mais de 20 anos. No entanto, é importante reconhecer que a queda do preço do barril de petróleo (que é a principal exportação do país e que responde por 70% das suas receitas), foi determinante para essa recessão, uma vez que o preço desceu mais do que a metade desde meados de 2014. Mas a insurgência do Boko Haram em 2015 foi ainda mais determinante, atirando o país para uma situação de instabilidade política, económica e social, isto é, elevada carga inflacionária, altas taxas de câmbio, lock down nas transações para os estudantes e doentes no estrangeiro, alto índice de desemprego, fome e pobreza (nalguns casos pobreza-extrema), e tantos outros factores que influenciam compulsivamente na mudança do xadrez geopolítico e geoeconómico, pois, estes factores provam claramente que a islamização nesta zona de Africa não foi uma boa experiência.

* Especialista em Relações Internacionais

(Leia o artigo integral na edição 621 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Abril de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)