Calçado em couro feito à mão com sonho de produzir em larga escala
O artesão José Luís Paulo chegou a Luanda há 24 anos com o sonho de ter uma fábrica e uma importante marca de calçado no País. Ainda não conseguiu a unidade fabril, mas tem uma marca reconhecida, Zé Ramar, produzida à mão e que já calçou o ex-presidente José Eduardo dos Santos e o músico Paulo Flores.
Zé Ramar é uma marca de calçados feitos à mão com couro de Benguela, que nasceu das mãos de José Luís Paulo, um artesão forjado perto da brisa da Praia Morena, na cidade de Benguela. A marca que veio a ter sede na Vila Alice, em Luanda, em 2001, e já calçou a comitiva do Comité Paraolímpico de Angola (CPA) em missões desportivas de 2004 e 2008 e também a delegação angolana nos jogos Pan-africanos da Argel 2007.
O projecto JYP Comercial, empresa que detém a marca Zé Ramar, nunca chegou a ter uma produção de larga escala e consistência comercial no que aos calçados em couro diz respeito. Contudo, o desejo de transformar o pequeno atelier no Zango II numa fábrica de calçado consolidada contínua vivo. Desde 2001, altura em a marca surgiu, passou por entre altos e baixos e esteve 15 anos sem trabalhar na arte de trabalhar o couro.
Em 2022, José Luís Paulo, regressou a esta arte que chama de "amor da minha vida" e reascendeu a chama do sonho de produzir calçados, pastas, cintos e carteiras. Para isso procura financiamento de 200 milhões Kz (250 mil USD ao câmbio actual) para montar uma estrutura fabril e alavancar o negócio.
Nesta altura, o atelier, que conta com 6 funcionários, tem capacidade de confeccionar apenas, em média, 4 pares de calçados por dia, 88 pares/mês, o que impossibilita a distribuição da marca em grandes superfícies comerciais ou boutiques. É pouca produção para atender a uma carteira de encomendas. "Por não se ter capacidade de respostas em caso de a demanda aumentar, temos que estar primeiro preparados", explica José Luís Paulo.
"Aqui faz-se tudo manualmente. Os cortes são a parte mais difícil em todo o processo de confecção e acaba por consumir a maior parte das horas de trabalho". Um equipamento que diminuísse esse tempo permitiria que a produção aumentasse até 100 calçados/dia, explica José Luís Paulo.
O objectivo é que continuem a fazer à mão grande parte do trabalho, como modelagem, costura, montagem e acabamentos. "A ideia de que o produto é feito artesanalmente, faz diferença e isso por si só, vende".
Os preços dos calçados da marca variam entre 20 mil a 40 mil Kz, entre sandálias chinelos e sapatos, com estes últimos a serem is mais caros, apesar de não serem produzidos com muita frequência devido à fraca solicitação.
Se fizermos as contas, com a produção média de 4 calcados por dia, a um preço médio de 30 mil Kz, pode-se se chegar a uma facturação diária de 120 mil Kz, 2,64 milhões Kz/mês pouco mais de 31 milhões/ano. Porém a realidade das contas é bem diferente, porque as encomendas não são regulares mas sazonais. O artesão está consciente que é necessário ter uma produção constante e uma abordagem ao mercado mais abrangente.
Além de uma estrutura fabril eficiente que dinamize o negócio, Zé Ramar confronta-se também com problema da escassez de matéria-prima no mercado, nomeadamente o cabedal que vem de pequenos fornecedores de Benguela. Sendo que outros insumos, como sola, linhas, cordões, fivelas, são importados do Congo ou países europeus com tradição no segmento dos calçados (Itália, Portugal e Espanha).
Não há uma indústria de produção de couro em Angola, que permita uma produção massiva de calçados em cabedal por um lado, de acordo com José Luís Paulo.
Por outro lado, por não existir um sector de produção de calçado muito activo, inibe o investimento na produção de matéria-prima local. Deste modo muitos dos pequenos produtores de couro de Benguela estão a desistir da actividade, de acordo com o artesão de 46 anos nascido naquela cidade.
(Leia o artigo integral na edição 731 do Expansão, desta sexta-feira, dia 30 de Junho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)