Participações angolanas em cotadas portuguesas rendem 219 milhões EUR
Só a Sonangol vai receber 165,7 milhões de euros em dividendos brutos a distribuir pela Galp e pelo Millennium BCP. Se vendesse hoje a sua participação indirecta na Galp, teria uma mais valia potencial de 2.109,4 milhões de euros. Já os dividendos a receber por Isabel dos Santos continuam retidos.
As participações angolanas em empresas portuguesas cotadas em bolsa vão render 219 milhões de euros em dividendos relativos ao ano de 2024, que começarão a ser distribuídos a partir de Abril. A Sonangol vai receber 88,4 milhões de euros pela participação do banco português Millennium BCP e 77,3 milhões de euros pela participação indirecta na petrolífera Galp. Já a participação arrestada de Isabel dos Santos na NOS deverá receber cerca de 53 milhões de euros.
Ao todo, as participações angolanas representam 7,6% do total de 2,9 mil milhões que as empresas portuguesas cotadas em bolsa vão distribuir relativos aos lucros de 2024. A China é há vários anos a geografia que recebe a maior parte dos dividendos pagos no exterior do país (devido a investimentos na EDP e na REN) e deverá receber um cheque de pouco mais de 500 milhões de euros. Segue-se Angola com 219 milhões e os EUA com 158,0 milhões USD.
A Sonangol receberá um total de 165,7 milhões de euros, equivalente a 76% do valor a que as participações angolanas receberão pelos investimentos em cotadas portuguesas.
Esperaza e a Galp
Afastada que está Isabel dos Santos da holding de capitais angolanos Esperaza, a Sonangol passou a deter sozinha 45% da Amorim Energia, que é a accionista de referência da petrolífera portuguesa Galp, com 33,34% das acções. Fazem ainda parte da estrutura accionista da Amorim Energia a Power, Oil & Gas (35%) e a Amorim Investimentos (20%), empresas cuja participação pertence à família do falecido empresário português Américo Amorim.
Em 2005, a Amorim Energia adquiriu um terço das acções da Galp Energia num negócio que envolveu 1.700 milhões de euros. Em 2011, a compra de 5% aos italianos da ENI envolveu o pagamento de 590 milhões. Só que, já em 2016, a Amorim Energia vendeu por 485 milhões a mesma percentagem que tinha comprado à ENI, num negócio que representa uma menos-valia de 105 milhões de euros face ao negócio decorrido cinco anos antes. Na altura, e de acordo com vários analistas, esta operação apenas se desenvolveu devido a uma pressão "vendedora" dos sócios angolanos da Amorim Energia. Contas feitas, desde 2005, entre compra e venda de acções, a Amorim Energia gastou 1.805 milhões de euros, dos quais 812 milhões foram suportados pela Esperaza Holding, que na altura pertencia à EXEM de Isabel dos Santos e do seu marido (40%) e à Sonangol (60%).
Cada acção da Galp na bolsa lisboeta estava cotada esta terça-feira em 15,49 euros, o que faz com que a participação luso-angolana valha hoje 4.295,2 milhões de euros. Contas feitas, a Amorim Energia pagou 1.805 milhões de euros por uma participação que hoje vale mais 2.490,2 milhões. E se a esta mais-valia potencial de 2.490,2 milhões de euros somarmos os dividendos de 2.197,3 milhões recebidos pela Amorim Energia desde 2005, concluímos que se vendesse a participação hoje a empresa luso- -angolana teria ganho 4.687,2 milhões de euros com este investimento. E se a Amorim Energia "ganha" 4.687,2 milhões de euros, a Esperaza tem 45% desse valor, ou seja, 2.109,4 milhões de euros.
BCP só deu 170,6 milhões desde 2007
Quanto à participação da Sonangol no Millennium BCP, sabe-se que a petrolífera deu início ao negócio de entrada no banco português em 2007, com um valor inicial de 525,6 milhões de euros, de acordo com os relatórios e contas da Sonangol. Entre aumentos de capital e distribuição de dividendos (que foram feitos poucas vezes), a balança do investimento da Sonangol neste banco será ainda muito negativa. Por exemplo, o jornal português Negócios refere que a petrolífera já investiu mais de 2,9 mil milhões de euros no banco.
De acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios e contas do BCP entre 2007 e 2023, a Sonangol terá recebido um total de 82,2 milhões de euros em dividendos brutos deste banco, um valor abaixo dos 88,4 milhões que deverá receber pelos lucros do banco em 2024. Contas feitas, desde 2007, o BCP rendeu apenas 170,6 milhões de euros em dividendos brutos à Sonangol.
Caso vendesse hoje a sua participação no Millennium BCP, a petrolífera receberia 0,58 euros por acção, pelo que, pelas 2.946.353.914 acções que detém no banco, a petrolífera nacional receberia cerca de 1,7 mil milhões USD. Não é possível calcular os ganhos potenciais face à pouca informação disponível sobre o valor de compra e os aumentos de capital.
Leia o artigo integral na edição 819 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)