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Cadeias de valor: O caminho para o futuro económico de Angola

EM ANÁLISE

O desenvolvimento de cadeias de valor robustas é uma condição sine qua non para garantir a soberania económica de Angola. Sem uma base produtiva diversificada, o país continuará vulnerável a crises externas e incapaz de atingir o seu pleno potencial de crescimento.

Angola enfrenta uma crise silenciosa, mas profunda, que afecta directamente a sua soberania económica: a ausência de cadeias de valor robustas em sectores cruciais. Com uma economia excessivamente dependente das exportações de petróleo, mais de 80% de importações de bens essenciais, o país permanece vulnerável a choques externos, como flutuações cambiais e crises globais de oferta. A construção de cadeias de valor locais não é apenas uma questão económica, mas um imperativo estratégico para garantir segurança alimentar, resiliência e desenvolvimento sustentável.

A incapacidade de Angola de agregar valor localmente significa que, ao exportar recursos brutos e importar produtos acabados, o país drena as suas reservas cambiais, sobrecarregando a balança comercial, que teve um déficit de aproximadamente 3 mil milhões USD em 2022.

A fragmentação das cadeias de valor também afecta a geração de empregos. Angola enfrenta uma taxa de desemprego jovem alarmante e, sem a criação de empregos qualificados, o país continuará a agravar as desigualdades sociais. Além disso, a falta de integração das cadeias internas resulta em maiores custos de produção, reduzindo a competitividade dos produtos angolanos tanto no mercado local quanto no exterior, devido aos elevados custos associados com a importação de matéria-prima e logística, que têm uma representatividade elevada na actividade das empresas nacionais.

Desenvolver cadeias de valor robustas é um caminho estrutural para transformar a economia angolana. Para que Angola possa consolidar cadeias de valor, é essencial adoptar uma abordagem estruturada e metodológica, ancorada em passos claros que promovam o desenvolvimento, a integração e a competitividade da economia.

01. Selecção de sectores prioritários

A identificação de sectores prioritários deve basear-se em três critérios fundamentais:

(1) EXISTÊNCIA DE RECURSOS LOCAIS;

(2) PROCURA INTERNA E REGIONAL; E

(2) CAPACIDADE DE AGREGAR VALOR.

02. Mapeamento e diagnóstico das cadeias de valor

O mapeamento de cada cadeia deve identificar as etapas onde exista maior ineficiência - da produção à distribuição. Um diagnóstico preciso permitirá aprofundar o conhecimento sobre gargalos existentes, como a falta de infra-estrutura, escassez de insumos ou barreiras logísticas.

03. Desenvolvimento de clusters regionais

A criação de clusters económicos regionais fortalece a competitividade ao concentrar actividades complementares numa área geográfica. Esses clusters facilitam a partilha de infra-estrutura, conhecimento e inovação, promovendo a especialização regional. Em Angola, regiões como Benguela e Huambo possuem potencial para desenvolver clusters agro-industriais, reduzir os custos de produção e aumentar a eficiência logística.

A capacitação dos quadros locais deve ser vista como prioridade nacional. Sem uma força de trabalho qualificada, Angola não poderá aproveitar totalmente o potencial dos seus sectores produtivos. Nesse sentido, parcerias entre o governo e sector privado devem fomentar a criação de escolas técnicas e centros de formação especializados em todas as fases das cadeias de valor.

04. Atracção estratégica de investimento privado

A transformação das cadeias de valor exige um volume substancial de investimento. A estratégia de atracção de investimento privado e PPP deverá estar direccionada para mitigar as principais lacunas identificadas ao longo da cadeia de valor e estabelecer operadores âncora, que possam sustentar o desenvolvimento dos níveis a montante, passando de um sourcing externo para um nacional. Esta abordagem melhora a eficiência do capital investido, direccionando-o para áreas com maior potencial de retorno económico e social.

A integração de Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) nesse contexto é igualmente vital. As MPMEs representam a espinha dorsal de uma economia resiliente e, ao fortalecer a sua participação nas cadeias de valor, o país poderá garantir inclusão social e crescimento económico mais equitativo.

Leia o artigo integral na edição 798 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Outubro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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