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Opinião

A armadilha da pobreza em Angola

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Certamente, a maioria dos angolanos e estrangeiros descreve a nossa pátria como: "Angola é um País rico", querendo enfatizar o potencial em recursos naturais do País; sob outra perspectiva, também há, sem sombra de dúvidas, a pobreza, sendo uma armadilha mesmo para quem trabalha. Pessoas com emprego, mas a ganhar menos do que precisam para adquirir uma cesta básica, isto é, num estado de pobreza monetária. Este fenómeno já existia, mas o panorama financeiro actual, acrescido dos efeitos da Covid-19 e, ao mesmo tempo, da redução do preço do petróleo nos mercados internacionais, agravou-o. O cenário actual obriga-nos a fazer uma transição mais "virtual e tecnológica", atirando os mais pobres para uma situação de exclusão, que é uma das características da armadilha da pobreza.

Com base nas desigualdades excessivas, vamos continuar a traçar os mesmos caminhos? Com programas de combate à pobreza, que são vistos como medidas paliativas? O que iremos pensar face a isto? Ter tudo e não ter nada? Temos de reconhecer que Angola encontra-se na armadilha da pobreza.

Adam Smith, um dos mais proeminentes economistas e pai da economia moderna, na sua obra intitulada "Um inquérito sobre a causa das riquezas das nações", escreveu: "Não se vêem, porventura, povos pobres em terras vastas, potencialmente férteis e com um clima dos mais benéficos? E, inversamente, não se encontra por vezes uma população numerosa vivendo na abundância num território exíguo, não favorecido por dons naturais? Ora, se essa é a realidade, é porque existe uma causa sem a qual os recursos naturais, por mais preciosos que sejam, nada são". Essa causa dominante é o trabalho, ou seja, a capacidade de acrescentar valor e transformar recursos em riqueza. Passados mais de 200 anos, o pensamento de Smith continua a ser aplicável à nossa realidade.

A armadilha da pobreza surge na esfera da economia do desenvolvimento, e é entendida como um mecanismo de auto-reforço da pobreza que, tendencialmente, perpetua um ciclo vicioso. Neste âmbito, indivíduos abaixo da linha da pobreza mantêm-se pobres, e países inicialmente pobres tendem a continuar na pobreza. O modelo de crescimento económico Harrod-Domar, quando alterado em alguns dos seus pressupostos, identifica a armadilha da pobreza como um equilíbrio estável e com baixo nível de rendimento per capita.

Dados finais avançados pelo INE, Relatório sobre a Pobreza multidimensional em Angola, estima a incidência da pobreza nacional em 54%; mais de quatro em cada dez angolanos são pobres, com privações em habitação de qualidade adequada (44,2%), ou em electricidade (43,7%) ou de registo civil (43,3%). A taxa de incidência da pobreza multidimensional na zona rural (87,8%) é mais que o dobro da taxa de incidência nas zonas urbanas (35%). Estatísticas da contabilidade nacional apontam para uma variação negativa do PIB de 1,8% no I trimestre de 2020 relativamente ao período homólogo. Se é consensual que a redução da pobreza ocorre quando se regista crescimento económico sustentado, mudança estrutural dos sectores da actividade económica e políticas de redistribuição de rendimentos progressivas, depreende-se que a conjuntura actual origina um emaranhado que há muito se não consegue desembaraçar.

*Financeiro

** Analista de Risco

(Leia o artigo integral na edição 591 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Setembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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