Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

A quarta revolução industrial, a Inteligência Artificial e a Rerum Novarum Digital de Leão XIV

CONVIDADO

A informação passou a ser a matéria-prima, o computador o novo arado. E a quarta revolução industrial, onde ora habitamos, é a dissolução das fronteiras: o físico mescla-se com o digital, o homem com a máquina, a consciência com o algoritmo. Surge, triunfante, a inteligência artificial.

I. Entre o vapor e o silício, a Igreja escuta os sinais dos tempos económicos/ondjangológicos

Num mundo que ora se despede da engrenagem e da forja, e ora se curva diante de cabos invisíveis e circuitos mudos, levanta- -se uma interrogação escatológica: quem é o homem, agora que partilha a mesa da razão com o cálculo maquínico? No vértice da chamada quarta revolução industrial, marcada pela sinfonia rítmica entre o biológico e o digital, desponta a urgência de um novo discernimento moral, espiritual e económico. Este ensaio propõe-se como um acto de vigília teológica/económica: retomar o fio de Leão XIII, urdido na sua Rerum Novarum (1891), e entrelaçá-lo ao novelo cibernético do nosso tempo.

Num mundo em que a inteligência artificial reconfigura o labor, a política, a educação e a própria consciência, urge perguntar: o que diria um novo Leão? E que encíclica nos entregaria, agora que os pobres estão também entre os analfabetos digitais?

II. As quatro etapas da transfiguração tecnológica A história industrial do mundo desenrola-se em quatro actos, como drama de Prometeu moderno.

A primeira revolução industrial, no século XVIII, fez brotar a fumaça sobre os telhados da Europa: o vapor, o tear mecânico, a ferrovia. O homem viu-se arrancado do campo e lançado na fornalha das cidades, transfigurado em engrenagem. A segunda revolução industrial, no dealbar do século XX, foi a era da electricidade, do motor de combustão e da produção em massa. A eficiência tornou-se deidade e a alienação, sacramento. A terceira revolução industrial, nos anos 1970, introduziu o código binário como nova língua da civilização. A informação passou a ser a matéria-prima, o computador o novo arado. E a quarta revolução industrial, onde ora habitamos, é a dissolução das fronteiras: o físico mescla-se com o digital, o homem com a máquina, a consciência com o algoritmo. Surge, triunfante, a inteligência artificial.

III. Inteligência Artificial: O oráculo sem alma

A Inteligência Artificial não pensa como nós. Calcula, simu la, prediz. Mas não ama. Não sofre. Não morre. Ela é um espelho escuro do nosso engenho e um precipício para a nossa ética. Russell e Norvig definem-na como "agente racional". Mas onde está o coração? Se a justiça for codificada, será ainda justa? Se o cuidado for automatizado, subsiste a ternura? Estamos diante de uma nova torre de Babel: feita não de tijolos, mas de dados. E a sua altivez desafia o céu. IV.

Leão XIII e a primeira revolução industrial

Quando os fornos da revolução industrial cuspiam os corpos dos trabalhadores, Leão XIII ousou escrever a encíclica Rerum Novarum. Foi mais que um texto: foi um brado. Um escudo contra a indiferença. Uma tenda plantada entre o capital e o trabalho. Ali se consagraram verdades eternas:

● A DIGNIDADE INTRÍNSECA DO LABOR HUMANO;

● O DIREITO AO SALÁRIO JUSTO;

● A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE;

● A PRIMAZIA DO BEM COMUM SOBRE O LUCRO.

Com essa carta, a Igreja entrou na modernidade não pela porta do medo, mas pela da coragem profética.

Leia o artigo integral na edição 826 do Expansão, de Sexta-feira, dia 16 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo