O papel da família na economia angolana
A família, considerada como o núcleo da sociedade por motivos sociologicamente fundamentados e válidos, tem uma importância económica também nevrálgica e integra o conjunto de elementos que fazem parte dos agentes económicos (empresas, Estado, instituições financeiras, exterior) cuja interacção resulta em fluxo e refluxo, o que a economia chama de circuito, tornando a família a razão de ser e de fazer do agente empresa, na qualidade de consumidora por excelência.
À família não lhe é apenas reservado o papel de consumidor, mas também o de produtor de bens e/ou serviços pela via da criação de empresas monoplurifamiliares, cuja dimensão galga os patamares que norteiam a sua classificação; fonte geradora de emprego e providencial de força de trabalho. Estando ela geográfica e demograficamente distribuída em contextos paralelos e conexos (rural e urbano), o seu contributo para a economia nacional é transversal e intemporal, estando investida na multiplicidade de papéis previamente descritos.
Família rural
Enquanto unidade produtora, a família angolana estabelecida no ambiente rural dedica-se tradicionalmente à prática de algumas actividades económicas ligadas ao sector primário (agricultura, pesca, pecuária, etc.) de pequena escala, tendo na subsistência o seu core e o pequeno comércio como complemento. Na qualidade de unidade fornecedora de recursos humanos, a família rural é auto-suficiente, pois basta-se a si mesma na geração de competências e valências técnico-profissionais bastantes - in job training -, que perduram de geração em geração. Quer isto dizer que cada família é responsável pela formação dos recursos humanos necessários ao exercício das actividades económicas que lhe são peculiares. Enquanto consumidora, aloca parte do seu orçamento à aquisição de alguns insumos indispensáveis, e outra a despesas correntes que se traduzem ao estritamente necessário.
Família urbana e periurbana
No contexto urbano, a família angolana exerce a sua actividade em ambientes díspares: casco urbano e suburbano. No primeiro, a família angolana como unidade produtora está envolvida em negócios de pequena e média dimensão, ligados essencialmente ao sector terciário (moda e beleza, restauração, eventos e entretenimento, artes e ofícios, comércio e afins).
Por regra, tais unidades de produção e/ou prestação estão inseridas no circuito formal da economia, possuem relativa estabilidade e apresentam um ciclo de vida de médio-longo prazo, actuando algumas em parcerias com congéneres estrangeiras (tanto em regime de sociedade quanto no modelo de representação), adicionando qualidade de forma e de conteúdo ao negócio, com reflexos directos e indirectos no mercado (aumento gradativo da oferta quer quantitativa, quer qualitativa).
São fontes absorventes de recursos humanos de qualidade (competências, habilidades académicas e profissionais, background e expertise) mediana e superior, considerando a missão, os objectivos e o percurso para a prossecução dos desideratos.
Enquanto fornecedora de recursos humanos, oferece ao mercado de trabalho capital humano, potencialmente de qualidade média e superior, por obra da sua condição económica que possibilita aceder e percorrer o sistema de ensino e aprendizagem que ao mesmo faz jus, contando não poucas vezes com recurso ao exterior do País. Como consumidora, a família urbana mescla qualidade à quantidade na aquisição de produtos (bens e serviços) adicionando bem-estar ao seu estilo de vida.
As unidades produtoras constituídas pela família estabelecida no casco periurbano estão também voltadas para o exercício de actividades económicas similares à família anterior, mas que, por imperativos de vária ordem e origem, quer endógenos bem como exógenos (parcos recursos financeiros, materiais, aliados amiúde ao menor grau de instrução académica e/ou técnico-profissional e ausência de apoio institucional do Estado e de algumas entidades privadas), se reflectem na forma e no conteúdo destas unidades (precariedade, instabilidade, informalismo) coarctando assim a possibilidade de crescimento e expansão.
Regra geral, estas unidades absorvem recursos humanos de qualidade básica e média, oferecem produtos condizentes à sua capacidade e estrutura, situação proporcional ao papel que lhe é reservado enquanto fonte de recursos humanos, verificando-se algumas vezes um ascendente do gráfico. Investida no papel de consumidor, a família angolana enquadrada neste rótulo comporta-se de forma semelhante à família inserida no contexto rural, salvo algumas diferenças de conteúdo.
Portanto, das conjecturas acima depreende-se que: A quantidade e a qualidade da produção de bens e/ou serviços oferecidos pela família angolana dependem de uma conjugação de factores, a saber: qualidade e quantidade dos recursos (humanos, financeiros, técnicos e tecnológicos) disponíveis; A qualidade e a quantidade dos recursos humanos que a família angolana disponibiliza à sociedade e em particular ao mercado de trabalho são afuniladas; A maior parte das unidades produtoras de bens e serviços propriedade da família angolana está inserida na zona periurbana e actua no sentido oposto à economia formal, acarretando consigo consequências ao tecido económico e social do País. Daí o papel do Estado e dos parceiros para a inversão do estágio actual em ambos os contextos e subcontextos.