O PIB de 2024 e o rendimento
A metodologia geral de cálculo consiste em deflacionar o PIB nominal do índice de inflação, ambos publicados pelo INE. Contudo, devido às características dos nossos mercados interno e externo e da taxa de câmbio, o VAB(2) das "exportações"(3) foi deflacionado da inflação mundial, muito menor do que a inflação interna.
O Produto Interno Bruto em medidas de volume
Comecemos pelo indicador mais utilizado na análise económica, embora não seja o indicador de actividade que privilegiamos.
De acordo com os cálculos do INE, o crescimento global do PIB de 2024 em medidas encadeadas de volume foi de 4,4%, o que significa que o PIB per capita em volume cresceu 1,2%!
Infelizmente, parece haver nestes dados um empolamento do indústria extractiva não petrolífera que apresenta um crescimento de 44,8% (62,4% no 4.º Trimestre) contra uma variação das exportações de diamantes em quilates de +2,5% (-23,5% no trimestre) e do valor anual das exportações dos restantes minérios e minerais de -38%. Como é que +2,5% em valor se transformam em +45% em VAB? Parece haver aqui um grave erro de registo.
De acordo com o INE, a contribuição dos diamantes e outros minerais para o crescimento do PIB total foi de 1% com um crescimento do sector de 45%! Tendo as exportações de diamantes em volume crescido 2,5% e dos restantes minérios e minerais -38%, é razoável admitir-se uma contribuição quase nula deste sector para o crescimento do PIB em volume e, consequentemente, este parece estar empolado em cerca de 1%, ou seja, o PIB total poderá ter crescido apenas 3,4% e o PIB per capita pode ter estagnado!
O Produto Interno Bruto em valor deflacionado
2.1METODOLOGIA
Tal como a das medidas encadeadas de volume, a metodologia do valor deflacionado procura apresentar uma medida para o PIB real (o PIB medido em produtos).
Enquanto o PIB em volume mede a variação das quantidades produzidas, o PIB deflacionado mede a variação das quantidades que se podem comprar com as quantidades produzidas.
Parece igual, mas não é. A variação dos termos de troca implica que estas medidas possam ser muito diferentes, sobretudo quando se está em presença de mercados externos de commodities com um peso significativo, como é o caso do nosso petróleo.
As quantidades de produtos que podem ser compradas com um barril de petróleo vendido a 70 USD são muito inferiores às que correspondem ao mesmo barril vendido a 100 USD. Na metodologia de cálculo em volume, a produção de um barril gera sempre o mesmo PIB; na metodologia do cálculo em valor deflacionado, o valor depende do preço e da inflação.
A metodologia do cálculo em volume sacrifica o valor do rendimento efectivo, assumindo que este é igual ao valor das quantidades produzidas a preços do período anterior(1); a metodologia do valor deflacionado privilegia o rendimento, assumindo que o valor produzido corresponde às quantidades que se podem efectivamente adquirir com a produção do período.
A metodologia geral de cálculo consiste em deflacionar o PIB nominal do índice de inflação, ambos publicados pelo INE. Contudo, devido às características dos nossos mercados interno e externo e da taxa de câmbio, o VAB(2) das "exportações"(3) foi deflacionado da inflação mundial, muito menor do que a inflação interna.
2.2 O PIB em valor deflacionado
Medido pela metodologia do valor deflacionado, a variação do PIB foi de +1,3% e a do PIB per capita -1,8%!
Ficámos, em média, um pouco mais pobres!
Calculado com esta metodologia, o valor acrescentado da produção exportada, que é sobretudo composta por petróleo e diamantes, baixou de 33,2 para 31,5 mil milhões de USD (-5,3%); enquanto a produção restante subiu de 77,0 para 80,2 mil milhões (+4,1)!
Ao contrário do PIB em volume, em vez de uma contribuição de +1,7% das extractivas (petróleo e diamantes) temos aqui uma contribuição de -1,6% das "exportações" (maioritariamente extractivas); no PIB não exportado temos uma contribuição de 2,7% em volume e +2,9% em valor deflacionado. Fora da esfera externa, as duas metodologias têm resultados semelhantes.
Embora o PIB per capita tenha decrescido 1,8%, ficámos um pouco mais pobres devido às quantidade e preços das nossas exportações (crescimento de -5,3%). O crescimento da produção não exportada (4,1%) situou-se acima do crescimento da população!
Contudo, como já sublinhámos, o VAB das extractivas em volume está muito provavelmente empolado no 4.º Trimestre, o que cria uma distorção geral no PIB anual de cerca de 1%; e, porque a produção não exportada é calculada subtraindo ao PIB total as importações retiradas da Balança de Pagamentos, o empolamento do PIB também aparece no cálculo em valor deflacionado e vai reflectir-se totalmente na produção não exportada.
Leia o artigo integral na edição 819 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)