Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Vade retro, Dona Deflação!

Economia 100 Makas

O custo de vida vai baixar. Esta é provavelmente uma das notícias que os consumidores mais gostariam de ler nos jornais, ouvir na rádio ou ver na TV. Se a baixa do custo de vida seria bem- -vinda pelos consumidores, atrevo-me a dizê-lo, de todo o mundo, ainda mais seria em Angola, com a nossa Luanda a ocupar há vários anos um dos lugares cimeiros do odioso pódio das cidades mais caras do planeta.

 

Se é dos que consideram uma baixa generalizada do custo de vida uma boa notícia, lamento desiludi-lo, mas está enganado. Ao contrário do que à primeira vista pode parecer, a descida generalizada dos preços dos comes e bebes, do sabonete, do Sheltox, da gasolina, dos livros e outros bens que compõem o cabaz de compras das famílias não é uma boa notícia.

A deflação pode, no curto prazo, fazer bem ao bolso de cada um, mas está longe de ser positiva para o conjunto da economia a longo prazo. Em economês, o fenómeno da descida generalizada dos preços designa-se por deflação e é actualmente um dos principais receios das autoridades económicas da Zona Euro, de cujo coração, Bruxelas, capital da Bélgica, escrevo esta crónica.

Os preços numa economia dependem, entre outros factores, da oferta e da procura de bens e serviços, e dos respectivos custos de produção. Até rebentar a actual crise, a preocupação das autoridades da moeda única europeia era a inflação, isto é, a subida generalizada dos preços, devido ao crédito fácil, que alimentava a procura, e à subida das matérias-primas, que encarecia a produção. Com a crise do crédito hipotecário, primeiro, e da dívida europeia, depois, a situação inverteu-se, tendo-se iniciado um processo de desinflação.

A escassez de crédito reduziu a procura de bens e serviços, provocando excesso de produção em muitos sectores de actividade. Os elevados cortes orçamentais levados a cabo por muitos governos europeus com o objectivo de controlar as respectivas dívidas públicas ainda pioraram a situação.

No final de Janeiro, o Eurostat, organismo europeu de estatísticas, revelou que os preços em Janeiro de 2014, face ao mesmo mês de 2013, aumentaram apenas 0,7%, menos uma décima do que em Dezembro. Quanto ao futuro, muitos economistas alertam que a inflação deve não só continuar a baixar como até pode atingir valores negativos. Se isso acontecer, a Zona Euro entrará em deflação. Dias antes de o Eurostat anunciar novos mínimos de quatro anos na inflação - e quando a maioria dos analistas ainda apontava para uma ligeira subida do ritmo de crescimento dos preços na Eurolândia -, Christine Lagarde, directora-geral do Fundo Monetário Internacional, garantiu em Davos, Suíça, que a deflação continua a ser um risco real para a recuperação europeia.

Também presente no World Economic Forum, conhecido pela Cimeira dos Ricos, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), cuja missão consiste precisamente em garantir a estabilidade dos preços, reconheceu que a inflação estava a níveis baixos - o BCE considera estabilidade de preços uma inflação inferior mas próxima dos 2% -, mas acrescentou que a inflação ainda não era uma preocupação para a Zona Euro.

A decisão, na semana passada, da autoridade monetária europeia de manter inalteradas as taxas de juro de referência da Zona Euro confirma que Draghi e seus pares não estão preocupados com uma eventual baixa generalizada dos preços na região. Oxalá estejam certos. O problema da deflação, isto é, da queda generalizada dos preços, é que as pessoas adiam decisões de consumo na esperança de que os preços baixem ainda mais. E, quando as pessoas deixam de consumir, as empresas acabam por investir menos ou até reduzir a sua actividade, lançando no desemprego uma parte dos trabalhadores.

Mais desemprego significa menos consumo e menos investimento que, por sua vez, geram mais desemprego... Cria-se assim uma espécie de círculo vicioso que pode terminar numa depressão semelhante à que a América viveu nos anos 20/30. Ou seja, a deflação é tão ou mais perigosa do que a inflação. A diferença é que a inflação nós já conhecemos e por isso, melhor ou pior, sabemos com o que podemos contar. Da deflação, a maioria de nós apenas ouviu falar.

A ser verdade que a deflação anda a namorar a Eurolândia, espero que o romance não acabe em pedido e muito menos em casamento. Uma eventual degradação económica da Zona Euro acabará mais tarde ou mais cedo por se reflectir negativamente no preço de petróleo, o abono de família da economia angolana.

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo