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Opinião

Força da corrente

Editorial

Previsão, estratégia, trabalhar com pelo menos três cenários, são os pressupostos que se estudam nas primeiras cadeiras do curso de economia. Ter a noção do objectivo a atingir, definir os caminhos possíveis, escolher o menos atribulado para iniciar a caminhada, deixar as pontes para alterar a rota em caso de necessidade sem ter que voltar ao início, são outros dos ensinamentos que se passam. A política hoje é fundamentalmente económica, com a generalização da economia de mercado os valores passaram a ser medidos por índices e não por conviccões, e os vencedores são aqueles que geram mais riqueza para as suas populações, embora em muitos casos seja o némero de ricos que sirva de barómetro.

Numa altura em que se aproximam as eleições, a menos de um ano da ida às urnas, esta questãop da estratégia, do caminho menos atribulado, esbate-se na importância do objectivo final e é natural que a governação se torne cada vez mais reactiva, de acordo com a pressão daqueles que têm o poder do voto. E é nestas alturas que muitas vezes são tomadas decisões e medidas que têm influência na vida de todos, difíceis de perceber e em completa "contramão" das ideias defendidas durante o resto da legislatura. Também é nestes momentos que se podem cometer erros que podem ter enormes consequências no futuro do país.

Embora pareça claro a todos que a governação nos últimos anos tenha sido mais reactiva que proactiva, com algumas honrosas excepções, não deixa de ser importante sublinhar que certamente vão acontecer algumas situações difíceis de explicar apenas pelo bom senso e sentido patriótico. Já hoje sentimos isso. Apesar de haver sempre um esforço organizado por meia dúzia de vozes dispostas a dizer qualquer coisa, que têm sempre uma justificaçãp de sapiência e visão estratégica para tudo. Mas como a acção é reactiva e muitos dos que decidem já perceberam que este formato não está a resultar, é normal que algumas destas "aves" caiam dos seus poleiros a curto e médio prazo. Mas é importante dizer que há memória e que a maioria das pessoas não vai esquecer rapidamente o que foi dito.

Tal como acontece nos diques de água, depois de abertos pequenos orifícios, já não é possível segurar a corrente com as mãos. Por mais que pareça fácil e por muita vontade que se tenha. Depois só com trabalho de construção o, que neste caso significa obra, resposta aos anseios dos cidadãos, que pode voltar a "dominar" a situação e a controlar a corrente. E se insistir nesta postura, sem perceber a força das águas, acaba por ser levado pela corrente. E quando esta passar o seu lugar mudou. É outro. Já não está mais perto do dique. Com a agravante que pode levar muitos anos para voltar a levantar-se. Quem não perceber os tempos que se vivem, vai ter grandes dissabores.