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Angola

Ambulância-kupapata para aldeia de Santa Mboleia trava na burocracia

ALDEIA DIGITAL E ECOLÓGICA DA ONG CHANGE 1"S LIFE

O veículo aguarda apenas pelo livrete, que está na gaveta há quase três meses, para começar a servir de apoio ao posto de saúde instalado na aldeia. O objectivo é minimizar os custos das viagens para a cidade de Caxito, que fica a 25 km, numa zona sem cobertura de transportes públicos. O motorista da ambulância-kupapata é um jovem, que foi seleccionado na comunidade.

A ideia que se tem, quando se pensa numa aldeia onde falta quase tudo, é que as pessoas não sorriem. São pobres e a condição de pobreza rouba-lhes a alegria. Mas não é o que parece, o sorriso existe e algumas vezes basta apenas um pequeno gesto para ser exteriorizado. Este é o caso da aldeia de Santa Mboleia, no município das Mabubas, que fica a 25 Km da cidade de Caxito, na província do Bengo. A mesma distância que se continua a percorrer para encontrar assistência médica, em condições de locomoção difíceis, numa zona remota que não é coberta por transportes públicos.

O projecto da ambulância numa motorizada de três rodas da ONG britânica Change 1"s Life surge para encurtar a distância e facilitar o acesso a cuidados de saúde. No entanto, a ambulância-kupapata está parada à espera do livrete, há quase três meses. A ambulância vai juntar-se à "Aldeia Digital e Ecológica", um projecto da ONG, que já contempla um posto de saúde contentorizado, para diminuir o custo de viajar com pacientes até ao hospital de Caxito, capital do Bengo. O projecto, implementado em 2021, conta igualmente com uma sala de aulas digital ecológica contentorizada, que quer trazer o ensino para o século XXI.

Ao todo 1.182 pessoas habitam na aldeia. Todas elas aguardam pela ambulância adaptada, com uma maca e um assento para o enfermeiro ou acompanhante, intervenção feita por uma empresa parceira do projecto. O equipamento doado à ONG aguarda apenas pela documentação necessá[1]ria para começar a operar.

O veículo até já tem motorista selecionado, é um jovem da comunidade que terá uma "remuneração simbólica", paga pela Change 1"s Life, organização não governamental britânica com acção em vários países de África Subsariana. "Quando há uma situação de saúde, uma simples dor de cabeça, por exemplo, temos de gastar, por pessoa, 2.000 Kz de táxi para chegar ao hospital de Caxito e voltar. Este projecto vai surgir como uma dádiva de Deus", diz Alexandre Neto, presidente da comissão de moradores de Santa Mboleia.

A aldeia que tem tão pouco

A ambulância adaptada em motorizada de três rodas, que já foi apresentada à comunidade, "vai juntar-se a um posto médico com os serviços mínimos, mas que faz toda a diferença na comunidade". A chegada da ambulância-kupapata é ouro sobre azul, numa comunidade que tem tão pouco, pois "para as patologias que exigem outro tipo de assistência, os pacientes vão poder sair da aldeia gratuitamente", explica Alexandre Neto. O presidente da comissão de moradores nasceu na vizinha província do Kuanza Norte, mas o destino fez de Santa Mboleia a sua terra, quando partiu ainda jovem à procura de melhor sorte.

A pequena aldeia existe antes da independência de Angola, em 1975. É atravessada ao meio por uma estrada asfaltada, que divide a povoação em duas partes, norte e sul, mas até finais de 2021 nunca tinha sido contemplada com um centro de saúde que garantisse serviços mínimos. "O meu filho está com paludismo, estamos a esperar pelo atendimento", explica dona Maria, que de tanto viver não se lembra do ano em que nasceu. "Antes ficávamos com os doentes em casa. Hoje já temos aqui um enfermeiro para nos atender e dar os medicamentos, quanto os há, e quando não há temos de ir à cidade [Caxito] comprar", lamenta.

De acordo com Elsa Mbumba, coordenadora do projecto, uma das grandes preocupações é a falta de medicamentos e os prazos de validade apertados. Muitas vezes, a ONG recebe medicamentos quase a expirar, o que pode vir a ser perigoso. "Temos feito visitas periódicas para manter as infraestruturas operacionais e tudo à custa dos nossos parceiros, que estão comprometidos com a causa. As vindas à aldeia têm sido como se uma sessão de terapia se tratasse", diz a jovem psicóloga.

Rodeada de embondeiros, a parte norte da aldeia foi a que recebeu a "Aldeia Digital e Ecológica", infraestrutura social que atende os pacientes mais leves, encaminhando os casos mais complexos para a cidade de Caxito. O pequeno posto médico de apenas dois compartimentos parece uma caixa suspensa em blocos de cimento, está entre a escola contentorizada e um grande jango circular. Feito de troncos e cobertura de capim seco, o jango consegue conter e afastar o calor do Bengo, permitindo que a brisa circule e refresque os pacientes que ali repousam enquanto aguardam atendimento. O jango foi construído como sala de espera, mas já extravasa essa função, como se verá adiante.

Em termos geográficos, a velha aldeia, quase esquecida, está rodeada pelas aldeias do 29 a leste e a do Alto a norte. Baixo Minguengue, Hongo Hungo e Kilembequeta são outras povoações vizinhas, mas que compartilham as mesmas dificuldades.

Falta água potável

Na aldeia de Santa Mboleia há um fontanário instalado pelo Estado há cinco anos, mas que deixou de funcionar, por falta de manuten[1]ção, em 2019. "A alternativa é a água de uma lagoa que está a quatro quilómetros da aldeia. Este é um problema grave, que já foi levado à administração do município há algum tempo e continuamos à espera", lamenta Alexandre Neto.

De acordo com Domingas Luciano, enfermeira que conseguiu o primeiro emprego no posto médico da aldeia, as patologias mais comuns são a diarreia, dores de cabeça e estômago e a malária. A enfermeira, que se formou num dos institutos médios de enfermagem de Luanda, explica que algumas das patologias estão relacionadas com o consumo de água imprópria.

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