Azar leva apostadores a investir em prémios menores
Sete em cada 10 apostas dão prémio, mas perdas são muito superiores aos ganhos. Os números têm a ver com alargamento de apostas e tendência por prémios de menor valor. O Estado obteve 1,7 mil milhões Kz em receita fiscal. Sociólogo alerta para "desestruturação das famílias" em caso de sucessivo azar.
Num volume de apostas desportivas de 3,5 milhões em 2021, nas duas salas de jogos, Elephant Bet e Premier Bet, em média 70% (2,45 milhões) tiveram sorte e mais de um milhão teve azar. Dito de outra forma, para cada dez apostas sete foram "tiros certeiros", calculou Expansão com base nos dados fornecidos pelo Instituto de Supervisão de Jogos (ISJ), mas os montantes recebidos foram muito inferiores ao que os jogadores perderam.
Estes números estão reflectidos no sistema alargado de prémios para este segmento, apostas desportivas à cota, que podem chegar a valores não superiores a 50 milhões Kz, associado também, ao facto de os apostadores optarem por prognósticos mais simples e prémios menores em Kz.
A adesão de apostadores nestes segmentos continua a crescer. As tendas espalhadas pela cidade de Luanda atraem centenas de pessoas diariamente para as apostas desportivas à cota de base territorial (através de bilhetes de apostas), do mesmo modo que crescem as apostas online.
Kabanga é taxista, mas tira sempre um pouco do seu tempo para tentar a sorte. Em conversa com o Expansão diz que aposta há mais de um mês e que por dia chega a fazer quatro a cinco bilhetes de aposta. Gasta em média mil kz/dia. Já ganhou três vezes e o valor máximo de prémio que recebeu foram três mil Kz. "Aposto com a ideia de ganhar milhões", diz. No final das contas, já perdeu muito mais do que ganhou.
Ângelo, outro apostador, optou por dar "uma pausa" de uma semana nas apostas, porque tem perdido muito ultimamente e não tem tido dinheiro para apostar. É jogador há quase um ano. Já ganhou, porém nunca chegou a milhões. "Já ganhei até 30 mil Kz", na altura tinha apostado cinco mil Kz.
Para o Sociólogo João Lukombo, a adesão a estas apostas tem a ver com a capacidade económica da sociedade, que vê nestes prognósticos uma forma de suprir fragilidade financeira. "Há desemprego e incapacidade no poder aquisitivo dos jovens e isso cria alguma incerteza, por isso, encontram nestas probabilidades uma forma de responder às necessidades.
Trata-se apenas de tentar a sorte", explica. O sociólogo acrescenta que é normal que haja apostas, por isso, não se deve marginalizar. Contudo, deve-se ter em conta a questão da "desestruturação das famílias em caso de sucessivos azares [perdas], porque se trata de sorte e azar e pode ser perigoso depender apenas da sorte".
Receitas para o Estado
De acordo com os dados do Instituto de Supervisão de Jogos, as 3,5 milhões de apostas desportivas à cota renderam um volume de negócios na ordem dos 4 mil milhões de Kz para as duas salas, durante o ano de 2021. "Em 2021, os apostadores tiveram um retorno, sob a forma de prémio, de entre 60% a 80% sobre os números das apostas e em Dezembro este valor atingiu o pico, sobretudo nas apostas em jogos de futebol", explicou ao Expansão o director geral do ISJ, Paulo Ringote.
Já em termos de receitas totais arrecadadas pelo Estado, através do Imposto Especial sobre Jogos, foram 1,7 mil milhões Kz, 42,5% do volume de negócios dos dois operadores, estimado em 4 mil milhões Kz.
Os apostadores desportivos "deram" 771 milhões Kz ao Estado, através de impostos sobre o valor global dos prémios, ou seja, 44% da receita do Imposto Especial sobre os Jogos. Já o ISJ recebeu os restantes 925 milhões Kz, ou seja 56% da receita gerada com o imposto.
(Leia o artigo integral na edição 660 do Expansão, de sexta-feira, dia 4 de Fevereiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)