FAF em situação de falência com capitais próprios negativos que ultrapassam 1,1 mil milhões Kz
Os números da FAF mostram que a conta de capital próprio a 31 de Dezembro de 2019 tinha um valor negativo superior a 1,12 mil milhões kz e um passivo corrente superior ao activo corrente em 762 milhões kz. Um cenário de falência da instituição, que é referenciado no relatório e contas nos seguintes termos: "Tais situações indiciam a existência de uma incerteza significativa que pode colocar em causa a capacidade da Federação Angolana de Futebol (FAF) em continuar o curso normal das operações". Junta-se a isto a inexistência de património, que hoje se resume a uma lavandaria, que custou sete milhões Kz, carros, secretárias e computadores, e com o imobilizado registado avaliado em pouco mais de 36,6 milhões de kz.
Cai assim por terra a ideia de que o Hotel Palanca, a Casa do Desportista e outros imóveis eram da FAF. Mesmo o edifício-sede em Nova Vida não está em nome da federação, embora tenham garantido ao Expansão que estavam a "lutar" para passar a titularidade do imóvel para a FAF. Abrir um pa
rêntese para explicar que só no ano passado, 2019, a Federação Angolana de Futebol conseguiu completar o processo de registo oficial, ou seja, esteve quase 44 anos a funcionar sem cumprir integralmente a lei. E isto aconteceu porque a actual direcção foi tratar de um financiamento bancário e, quando lhe pediram este documento, percebeu que afinal a instituição não estava registada oficialmente.
As contas de 2019 mostram um agravamento da situação financeira face a 2018, um resultado líquido negativo de 270 milhões Kz, apesar de ter tido um aumento significativo das receitas, mais 37,7%, sendo que no entanto os custos aumentaram quase 71%. Estes podem ser justificados por maior actividade das selecções nacionais, a equipa principal esteve no CAN do Egipto e a selecção sub-17 esteve no Mundial do Brasil, pelo que as maiores parcelas são exactamente "deslocação e estadias" (405 milhões kz) e "prémios e diárias/ajudas de custo das competições" (311,5 milhões Kz). Juntas valem 41% dos gastos da FAF no ano passado. Nem todo este valor terá a ver com estas duas competições, mas uma parte importante pode ser imputada a estas duas representações nacionais.
Conceição Gaspar, analista desportivo, refere que "as federações têm de se habituar a viver com o dinheiro que têm. É verdade que muitas vezes o dinheiro que vem do Estado não é entregue nos prazos combinados, o que dificulta a gestão. Mas as direcções não podem acumular prejuízos constantemente e depois, quando saem, não são responsabilizadas. Isso tem de mudar. Têm de ter fontes de financiamento alternativas e justificar o que gastam."
(Leia o artigo integral na edição 589 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Agosto de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)