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Nasdaq ultrapassa valores de 2000 ‘pop!’ E se a bolha rebenta?

Tecnologia

Março de 2000, mês cunhado na história dos mercados de capitais como aquele em que as companhias tecnológicas, infladas pela bomba da especulação, estoiraram no Nasdaq. Março de 2015, o índice das tecnológicas de Wall Street voltou a superar os 5.000 pontos, fasquia do descalabro do ano 2000.

 

Ainda que o sector esteja muito mais maturo do que em 2000 - quando ainda nem havia meia dúzia de anos de uso da Internet pelos cidadãos comuns e as velocidades de operação tornavam a rede num local pouco frequentável -, há quem questione se as tecnológicas, agora da Apple à Google, do Facebook ao Instagram, voltarão a vergar sob o peso do urso.

Na viragem do século, todos queriam entrar no olimpo das companhias nascidas na Internet. Muitos tentavam antecipar o que poderia ser a próxima Microsoft, investindo nas ofertas públicas iniciais, (IPO na sigla anglo-saxónica) mesmo sem conhecer planos de negócio ou até sabendo bem que produto transaccionava a companhia que estavam a adquirir.

A euforia terminou em Março de 2000, numa gigantesca ressaca que durou dois anos. Ao tempo, em voga estava o recém-chegado e-commerce, o potencial do consórcio Bluetooth (Ericsson, Intel, IBM, Nokia e Toshiba) e o ainda imaturo wireless. Hoje, são as redes sociais, as apps, os dispositivos wearables, o 3G e o esperado 4G, que estão na mira dos empreendedores e investidores. E, no meio desta loucura, aparecem também as biotecnológicas, outro sector proeminente no Nasdaq, o índice que em Março de 2015 bateu o recorde de Março de 2010, posicionando-se nos 5132,52 pontos, acima do anterior máximo, 5048,62.

Isto é sustentável? Se em 2000 todos andavam atrás do que esperavam poder vir a ser a 'nova Microsoft', hoje parece que muitos procuram o novo Facebook. Daí alguns temerem a 'loucura' que pode tomar o mercado no lançamento em bolsa de companhias como a Uber, a Airbnb (rede- de arrendamentos que valerá já 13.000 milhões USD), o Snapchat (valerá já 10.000 milhões USD), a DropBox e o Pinterest.

Com a aplicação que conjuga interesses para uma boleia paga (Uber, a irritação suprema dos taxistas pelo mundo fora), as vontades de quem necessita de um táxi e quem quer fazer dinheiro a transportar um passageiro, os investidores estarão a valorizar mais a expansão territorial e notoriedade, e talvez menos a proibição de operação em vários países, o que justificará a adesão de capital de risco e o valor de que se fala, de 40.000 milhões USD.

Há quem a chame o Alibaba de 2015, em alusão à estreia desse site chinês na bolsa, em 2014, com um sucesso estrondoso, arrecadando 25.000 milhões USD. Muito abaixo, mas também assinalável, os 425 milhões USD de outra tecnológica, ainda que com produtos palpáveis, a GoPro, quando foi lançada na bolsa, em Junho. Após tantas OPV ao longo dos últimos dois ou três anos, com dezenas de milhares de milhões de dólares envolvidos nos processos - diz a consultora PwC que em 2014 as IPO de tecnológicas angariaram 84.00 milhões USD, valor mais alto desde 2000 -, há quem veja um fulgor sem fim à vista neste novo paradigma tecnológico, alegando que há 15 anos as estruturas e a própria Internet estavam em construção e hoje estão já maturas e a apresentar lucros, sendo a portabilidade da Internet e as aplicações para smartphones e tablets indissociáveis do quotidiano dos cidadãos.

Outros, menos optimistas, apontam já o 'elefante' no meio da sala. Mark Cuban, empresário e milionário americano que se notabilizou por ter conseguido antecipar o estoiro da bolha de 2000 e vendido a sua Broadcast.com por 5.700 milhões USD, à Yahoo - hoje é dono da equipa da NBA Dallas Maveriks, de uma rede americana de salas de cinema, uma produtora cinematográfica e um dos investidores no programa televisivo de incentivos a empreendedores Shark Tank - veio dizer há dias que a bolha está de novo aí e pronta a estoirar, apontando exemplos como o do Facebook e Twitter (este ano, a cotação desta rede cresceu perto de 40%). Estaremos mesmo perto do fim? Venha daí nesta viagem no tempo e segure a carteira!

Rir da miséria

Em Março de 2000, a bolha rebentou, o desespero pegou nas mentes dos investidores e o trambolhão culminou na queda das dot-com e destruição de muito valor accionista. No índice tecnológico americano Nasdaq, o incêndio só parou em Outubro de 2002, quando já se perdera 77% do valor das companhias e o índice sufocava nos 1139 pontos.

De lá para cá, Apple e Cisco são, entre os gigantes, exemplos contrários de percurso, com a primeira mais de 2000% acima da cotação de então, e a segunda a valer cerca de metade. Nomes hoje vagamente recordados, como Global Crossing, Excite e Lycos, caíram naquela altura em que ainda eram novidades palavras e siglas como DSL (digital subscriber loop), banda larga, ISP (internet service provider) e page views.

As bolsas andavam loucas com a transição de século, e quando muitos esperavam que o mundo paralisasse na mudança de 1999 para 2000 (a teoria de que os computadores não estariam preparados para a mudança do '1' para o '2' e que a humanidade dependente das máquinas iria viver dias de confusão), os mercados, e não o 'mundo real', acabaram por ser o local das duas mil confusões.

Num dos negócios mais bombásticos, AOL e Time Warner entraram numa fusão com ares de absorção da segunda pela primeira, e o final foi o descalabro financeiro. De mãos dadas num palco e boca rasgada em sorrisos, Geral Levin, da Time Warner, e Stephen Case, da America Online, celebravam, qual rock stars, o negócio de 165.000 milhões USD em Janeiro de 2000. Acabaria a realidade por colidir com os planos da fusão, poucos meses após o negócio fechado.

O rebentamento da bolha dot-com arrastou parte da economia para a recessão, a publicidade retraiu-se bastante, e isto somou-se à mudança dos tempos, com a banda larga a substituir a inicial ligação à Internet à velocidade de caracol, baseada na linha telefónica, a base do negócio da AOL. E assim esta viu esvair-se receitas, e o valor da companhia passou de 226.000 para 20.000 milhões USD. Outra das grandes quedas, a de uma companhia de que o Expansão falou na semana passada, a Lucent (que viria a juntar-se à Alcatel e agora à Nokia), título que chegou a andar nos 100 USD e quebrou para um singelo dólar aquando do crash bolsista das tecnológicas.

Publicado na revista Forbes em Janeiro deste ano, um artigo de Rita McGrath, professora de Estratégia de Negócios na Columbia Business School, começa com uma recomendação: "O negócio [AOL e Time Warner] deve lembrar os investidores para terem um olhar mais próximo das mais quentes startups tecnológicas". A académica recorda flops de fusões e aquisições daqueles anos, "algumas catastróficas", sendo aquela operação entre AOL e Time Warner normalmente descrita como "a pior fusão de sempre". Ao contrário de muitos analistas animados nos corredores de Wall Street e na imprensa, Rita McGrath acha que "o que aconteceu então [2000] voltará a acontecer, ironicamente pelas exactas mesmas razões".

Dell e Cisco eram as estrelas de um Nasdaq que subia 24% naquela dúzia de semanas de 2000, enquanto o Dow Jones Industrial Average caía 13% no período homólogo. A soberba ganhava nos discursos sobre a luta da 'nova economia vs. velha economia'. Muitos esperavam os 6.000 pontos num período de 12 a 18 meses.

Da Lehman Brothers, um extasiado analista afirmava que "o caminho em direcção às acções da nova economia será mesmo um sustentado processo de longo curso". A horas de ser esmurrado pela realidade no rebentamento da bolha (e a menos de oito anos de ver a Lehman Brothers falir com estrondo), o especialista ainda afirmou que o índice era "o caminho do futuro" e "uma mudança estrutural legítima na economia".

No espaço de dois anos, o Nasdaq perdeu 80% do seu valor, 5 biliões USD, ou sete vezes o valor actual da Apple, ou, noutra perspectiva, quatro décadas de toda a riqueza produzida (PIB) no nosso País. Um caso específico foi recordado pela inglesa BBC, a propósito de um jovem arrogante que aos 17 anos tinha um site avaliado em mais de 20 milhões de libras. A história conta-se rapidamente: Benjamin Cohen criou um site para a comunidade judaica, algum tempo depois a imprensa escreveu que valia 5 milhões de libras, tendo por fonte o pai de Benjamin. A palavra espalhou-se, e o JewishNet atingiu 20 milhões.

A imprensa séria chamou-o de primeiro milionário teenager das dot-com. Acabou por ser só mais um dos falidos. Em 2010, Cohen disse à BBC que "o valor da companhia podia basear-se na quantidade de publicidade positiva que tivesse", e adicionar um 'e' (de electrónico) ou dotcom ao nome de uma companhia poderia alterar dramaticamente o preço das suas acções. Entre muitos outros exemplos, um viveu entre o drama e a gargalhada mais sincera: a Boo.com, um estudo de caso destes tempos. No Outono de 1999 lançou uma linha de moda através da Internet e recolheu 135 milhões USD de capital de risco. Valor que gastou em 18 meses.

Entre muita azáfama gastadora e extravagância, a certa altura levaram uma equipa de um cabeleireiro de Nova Iorque para Londres para planear o novo corte de cabelo de 'Miss Boom', tão-só uma imagem feminina desenhada (sim, uma viagem intercontinental para 'pentear' uma boneca) cuja função era dar as boas-vindas a quem acedia ao Boo.com… Em 18 de Maio de 2000, o negócio de roupa online implodiu, e quem colocou os 135 milhões USD naquela estrela do resplandecente e-commerce ficou despido.

Mas, porque nem tudo foi um fracasso entre as start-up das dot-com, referimos a Lastminute.com, que depois de passar por muitos maus bocados - três semanas após ser lançada em bolsa valia metade -, deu a volta por cima e em 2006 teve um investidor que pagou 577 milhões de libras esterlinas pela companhia, enriquecendo os seus fundadores.

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