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Angola

Serviços de saúde são dez vezes mais caros na cidade do que nas periferias

IMPORTAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM QUEDA FAZ CRESCER PREÇOS

Há preços para todos os gostos e bolsos na capital do País. Má qualidade dos serviços prestados nas unidades públicas acaba por "empurrar" muitos pacientes para clínicas privadas. Em muitas delas os serviços também são maus, e noutros, apesar de bons, os preços são incomportáveis.

Os preços dos serviços de saúde prestados pelas clínicas que funcionam em Luanda são até 10 vezes mais caros nas zonas mais privilegiadas da cidade em relação às periferias, constatou o Expansão durante uma ronda realizada para averiguar os preços dos medicamentos e serviços de saúde mais consumidos pelas famílias angolanas.

Uma consulta de medicina geral pode custar em média 3.500 Kz nas clínicas da periferia, enquanto nas principais clinicas da cidade o preço médio é de 37.790 Kz. Há casos em que uma consulta destas chega a custar mais de 50.000 Kz. Já no caso das gestantes, o preço médio das consultas varia entre 5.000 Kz na periferia e cerca de 53.000 Kz na cidade em clínicas como a Girassol, a Medical Center ou a Sagrada Esperança. Já as ecografias, há um fosso grande também, uma vez que custam em média 6.000 Kz nas denominadas clinicas de bairro e podem atingir os 66.000 Kz nas principais clinicas do centro da capital.

Esta diferença resulta, na maior parte das vezes, da qualidade dos serviços prestados e também do facto de uma boa parte dos clientes serem pessoas com seguros de saúde, o que tendencialmente acaba por pesar no factor preço. Esta disparidade de preços acaba por nivelar o tipo de cliente dos estabelecimentos, já que a maior parte da população não tem rendimentos suficientes para procurar cuidados de saúde nas clinicas mais caras.

Por isso, na maior parte das vezes recorrem a serviços de baixa qualidade, enfrentando vários riscos para a sua saúde, uma consequência, também, da fraca qualidade do serviço público de saúde, bem como das enchentes típicas das unidades de saúde pública.

Para o médico especialista em pediatria, Adriano Manuel, as clínicas mais caras cobram estes preços por causa da qualidade do serviço que oferecem, dos equipamentos e da mão-de-obra qualificada que possuem, que é quase sempre melhor do que nas instituições públicas. "Os exames em algumas clínicas podem estar acima dos 200 mil Kz, existem clínicas em que o

internamento chega a um milhão de kwanzas", admitiu o médico. Nas zonas periféricas, continuou o especialista, a qualidade dos serviços é precária, e a população que adere é aquela que tem pouco poder de compra. "O Governo subvenciona a saúde daqueles que já têm poder de compra, mas devia ser o contrário", defende.

Importa lembrar que os serviços públicos de saúde no País apresentam ainda muitas debilidades e são recorrentes queixas de famílias de pacientes sobre negligência e corrupção. São recorrentes os casos em que hospitais públicos não disponibilizam alguns tipos de exames específicos por falta de equipamentos, obrigando os pacientes a procurar esses serviços nas clínicas privadas. Este cenário condiciona quem não tem meios para custear os preços praticados nas clínicas.

À semelhança dos serviços, os medicamentos comercializados nas farmácias localizadas nas periferias são mais baratos em relação às das zonas de maior prestígio. De acordo com Adriano Manuel, essa disparidade está ligada à qualidade e a proveniência destes produtos. Por exemplo, os mais baratos são aqueles que chegam ao País sem a devida certificação e avaliação de controlo e qualidade, com muitos também a serem vendidos em praças, naquilo que a população costuma chamar de "os medicamentos da Índia".

Preços cresceram 123,3% nos últimos cinco anos

Os preços do sector da saúde registaram um crescimento de 123,3% nos últimos cinco anos (2020-2024), sendo o maior crescimento em comparação com as restantes classes de bens e serviços consumidos pelas famílias angolanas, de acordo com cálculos do Expansão baseados nos relatórios do Instituto Nacional de Estatística (INE). Até Fevereiro deste ano, a saúde já é a classe com a maior inflação acumulada, com 4,4%.

De acordo com o economista Fernandes Wanda, o acentuado crescimento dos preços do sector saúde pode estar directamente ligado à dependência da importação, já que estas são sempre afectadas pela variação cambial. Tendo em conta a desvalorização cambial registada nos últimos anos, é justificado o aumento generalizado dos preços e consequentemente os da saúde. Fernandes Wanda fez ainda menção ao facto de apenas agora estarem a ser anunciados alguns investimentos para fomentar a indústria farmacêutica, o que, a concretizar- se, poderá apresentar resultados apenas no longo prazo.

Leia o artigo integral na edição 820 do Expansão, de sexta-feira, dia 04 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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