Um negócio de preços baixos mas de riscos altos para quem compra
Só no mercado do Kikolo são mais de 40 contentores e cerca de 70 bancadas onde se pode encontrar uma variedade de produtos electrónicos, entre telefones, tablets e computadores, muitos deles de qualidade e origem duvidosa.
Barulho, muito barulho, e uma movimentação frenética. Um número de pessoas que excede a capacidade instalada circula no mercado. Num espaço apertado para tanta gente e com muita turbulência, os vendedores furam como podem para chegar aos clientes. Uns sentados com o megafone na mão e outros em pé e ainda muitos a correr de um lado para o outro, na tentativa de vender mercadoria para garantir o pão do dia. Esta é a primeira imagem que se observa logo à entrada do primeiro portão do Mercado do Kikolo, no município do Cacuaco, província de Luanda.
Este é o segundo maior mercado informal do País e o principal local de abastecimento de produtos para as restantes províncias, onde o comércio de bens movimenta por anos vários milhões de Kwanzas. Alguns passos depois da "porta" de entrada é notória a presença de inúmeros jovens com telemóveis na mão que procuram angariar clientes. Caso alguém manifeste interesse, os angariadores ou "chamadores de clientes" conduzem a pessoa a uma área dentro do mercado, conhecida como a antiga praça Kikolo, situada a alguns quilómetros da entrada.
Logo à chegada, chama a atenção o número elevado de bancadas e contentores transformados em lojas de venda de telemóveis, tablets, computadores e acessórios de inúmeras marcas. Este é o principal local de venda de telemóveis no mercado informal em Angola, seguido pelo Congolenses e pelo mercado do São Paulo. Ao todo mais de 40 contentores e um número superior a 70 bancadas acomodam o material e os clientes a retalho ou a grosso, para depois revender, de materiais e equipamentos electrónicos.
Fornecedores e vendedores
As principais origens das mercadorias são a China, Nigéria e a República Democrática do Congo. Os vendedores de telemóveis juntam-se em grupos de pelo menos 5 pessoas, com quantias acima de um milhão Kz, que entregam ao dono do contentor para este comprar o material fora do País. Depois do contentor chegar, a mercadoria é repartida por cada um, de acordo com a quantidade encomendada.
Mas, atenção, que este processo é praticado por poucos vendedores. A maioria, segundo o que o Expansão apurou durante uma ronda aos mercados que mais se dedicam à venda desta mercadoria, viaja para o Luvo, província do Zaire, na fronteira com a República Democrática do Congo, onde compram os telemóveis, que muitas vezes são montados ou até falsificados pelos grossistas nos mercados informais da RDC. Depois da compra, a mercadoria é descarregada no mercado do Kikolo e vendida a um preço muito mais barato daquele que é praticado nas lojas oficiais. Itel, Tecno, Lenovo, Samsung, Iphone e Redmi são as marcas de telemóveis mais vendidas no mercado. Mas quem adquira ali um telemóvel tem de confiar na sorte, pois muitos deles são de qualidade duvidosa, outros são roubados e há ainda aparelhos adulterados.
Preços baixos, riscos altos
"A bateria de Iphone 8 simples está a custar 8 mil Kz, tem boa qualidade e é durável mas se quiser tocar tens de me mostrar primeiro o dinheiro. Tenho a certeza da qualidade da minha bateria, mas preciso de saber se você quer mesmo comprar ou não, para isso tenho de ver primeiro o dinheiro. É toma lá, dá cá." A resposta de um dos vendedores mais antigos daquele ponto do mercado a um cliente que procurava uma bateria para o telemóvel ilustra bem o risco que se corre.
Por não conseguir confirmar a qualidade da bateria, o cliente afastou-se, desolado, após ouvir a resposta. Tomás Félix, de nacionalidade congolesa, vende no mercado há mais de 9 anos. Sempre na área das novas tecnologias. Dono do contentor número 256, afirma que muitos dos proprietários das lojas situadas no centro da cidade têm o mercado do Kikolo como fonte de abastecimento.
(Leia o artigo integral na edição 696 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Outubro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)