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Angola

Angola só quer empréstimos da China sem colateral de petróleo

PRESIDENTE NÃO FOI À CHINA E VERA DAVES DEIXA RECADOS

À medida que a produção petrolífera tem caido, as relações com a China também vão arreferendo. Há um irritante que separa os dois países, que resulta da intransigência chinesa em não renegociar termos da dívida. E Angola olha hoje para o Ocidente, que oferece condições menos "castradoras".

A China precisa de aumentar os financiamentos a Angola, sem incluir como colateral o petróleo, bem como ampliar os investimentos para que o País lhes possa comprar mais produtos fabricados como painéis solares e carros eléctricos, num sector onde têm forte concorrência de países ocidentais que estão a disponibilizar financiamentos para este efeito, admitiu a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa.

Estas declarações à Reuters surgem numa semana marcada pela ausência de João Lourenço da Cimeira China-África que este ano tem como destaque precisamente promessas de cooperação em matérias de infra-estruturas, energia e de educação. Os EUA e a Europa têm alertado que a China tem actualmente excesso de capacidade de produção de veículos eléctricos e de painéis solares e, ante a iminência de restrições do Ocidente às exportações chinesas, o gigante asiático colocou em cima da agenda desta cimeira (que conta com 25 chefes de Estado africanos) encontrar compradores para este tipo de mercadorias.

A governante disse que Angola procura formas de reforçar as suas finanças, de garantir a segurança alimentar e fazer crescer o sector das pescas, bem como atrair mais investimento para criação de empregos no País. E, para isso, é preciso "pensar fora da caixa porque a solução simples de "dá-me dinheiro, eu dou- -lhe a garantia" acabou", admite.

Ainda assim, em forma de "recado", Vera Daves adiantou que Angola "vai comprar mais painéis solares à Europa porque o financiamento vem de lá".

nanciamento vem de lá". Segundo especialistas e jornais internacionais há uma espécie de irritante com a China, que apesar das várias tentativas angolanas para suavizar prazos e montantes de pagamento sobre a sua dívida durante a pandemia da Covid-19 o máximo que conseguiu foi diminuir o volume de dinheiro que ficava retido na escrow-account (conta garantia) que serve de colateral para o pagamento da dívida. Quando acabou essa "facilidade", em 2023, dispararam os pagamentos à China, o que acabou por pressionar a tesouraria. Também em Março João Lourenço esteve na China e, apesar de todas as expectivas, também só terá conseguido uma diminuição do dinheiro que fica retido nessa conta de garantia, com o ministro da Estado para a Coordenação Económica, José Massano, a falar em poupanças de até 200 milhões USD por mês durante um ano. Não se tratou de uma renegociação dos termos da dívida, como fizeram questão as autoridades chinesas de afirmar.

Também a proximidade a outros países, como os EUA, tem esfriado as relações cino-angolanas, com as autoridades do nosso País a olharem com desconfiança para alguns investimentos e financiamentos chineses no continente, que podem dificultar a estratégia angolana para o Corredor do Lobito.

E acresce que a China é o maior credor bilateral do mundo, sendo actualmente o maior credor de Angola, a quem o País devia 15.865,8 milhões USD no final do II trimestre deste ano, de acordo com dados do BNA. Só que à medida que a produção de petróleo angolano começou a cair (menos 600 mil barris/dia em sete anos), os financiamentos também têm vindo a diminuir. Por isso, desde 2019, a dívida à China encolheu 6.5587 milhões USD ao passar de 22.424,5 milhões para os actuais 15.865,8 milhões USD. Como a China exige que os empréstimos a Angola devem ter como colateral o petróleo, à medida que a produção tem caído, tem diminuído também a vontade de ceder essas garantias, até para não hipotecar o futuro do País, em que 95% das exportações ainda são petróleo.

Agora, segundo a Reuters a China terá manifestado vontade de ajudar Angola a modernizar o seu sector agrícola, bem como a desenvolver as suas indústrias e a diversificar a economia em troca da importação de mais produtos chineses. Só que agora enfrenta a concorrência do Ocidente, que tem disponibilizado financiamentos com exigências eventualmente menos "castradoras" da economia angolana. "Esta é uma discussão difícil porque, no nosso caso, isto [a escolha sobre os fornecedores] vem junto com a solução de financiamento", disse a ministra acrescentando: "Se as receitas fiscais de Angola fossem suficientemente fortes para nos permitir escolher com base em critérios de qualidade e preço, teríamos uma discussão totalmente diferente".

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