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Opinião

Os nossos "miúdos"

Editorial

A moral é uma coisa importante para um País. Motivados, os cidadãos "dão corda" aos sapatos na caminhada da vida, desmoralizados, sentam-se na berma à espera do vento para se deslocarem. Neste sentido, esta semana trouxe duas boas novas.

O Presidente anunciou o início do processo de revisão constitucional, passando a ideia que a presidência que ele representa está disposta a abrir mão de alguns privilégios que a maioria considerava ser um excesso, e chegaram as primeiras vacinas da Covid-19 a Angola. Pode parecer uma heresia misturar revisão constitucional, ainda que pontual, com vacinas "indianas", mas, juntas, resultam numa lufada de ar fresco para muitos que se estavam a "afundar" no mar do "afinal está tudo na mesma", "isto não muda, ou é "muito complicado viver em Angola". Isso era mais visível numa classe jovem urbana, com formação técnica e que ainda sonha, que ainda acredita, mesmo que o dia-a-dia lhe aponte exactamente o sentido oposto.

Estou a falar de uma geração com a idade do meu filho, de "miúdos" que pensam pela sua cabeça, que amam o seu país e têm um enorme orgulho em "gritar" que são angolanos, que se empenham na sua profissão e que, durante anos, se viram ultrapassados por outros que eram vizinhos, amigos, primos ou familiares de uma elite que distribuía a riqueza e as oportunidades entre si. Alguns desistiram, fizeram as malas, puseram a bandeira na mochila e foram à procura de outras oportunidades em países que os receberam com alguma desconfiança, no princípio, e que depois os absorveram. Hoje muitos são figuras de destaque nessas terras.

Outros ficaram, firmes, acreditando que isto ia mudar. Houve também alguns que regressaram, entusiasmados pelos novos ventos, que sopraram forte há três anos, mas que depois foram enfraquecendo, lentamente. E passaram também a ser atacados por uma geração da mesma idade, manipulados pelas promessas de mais velhos, que querem fazer crer a esses "miúdos" que o caminho do sucesso passa pelo seguidismo, pela bajulação, pelo elogio fácil, mas fundamentalmente pelo ataque cerrado a quem pensa diferente, a quem não aceite as amarras do unanimismo. Mas que, ainda assim, vão resistindo ao comércio mais perverso do mundo, trocar a opinião ou o pensamento por uma casa ou um carro.

E foi destes jovens, que nasceram sem "pedigree" ou cartão de militante debaixo da almofada, que se fizeram licenciados a estudar nas viagens de táxis do casco urbano para o centro da cidade, que me lembrei esta semana. Cruzo-me com eles na rua todos os dias, vejo-os a trabalhar nas instituições e nas empresas, simpáticos e profissionais, e esta semana com um sorriso maior. Nós, angolanos, ficamos satisfeitos com pouca coisa, é fácil fazê-los voltar a acreditar. Por favor, não desiludam mais esta geração! São o que nos resta para fazer País.