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Opinião

Falar verdade

Editorial

A imagem mais forte desta edição, aquela que mais mexeu com a equipa, é a da fome na Tunda dos Dembos. Que nos desperta para uma realidade que se estende a outras zonas do País, escondida das reportagens que diariamente nos enchem as televisões de milhões de toneladas que estão a ser produzidas, de crescimentos enormes na agricultura, na pecuária e, na verdade, em tudo.

Este País, que é apresentado como perfeito e fulgurante, é uma enorme mentira criada por uma elite de Luanda, que, tal como avestruzes, prefere meter a cabeça na areia, em vez de assumir as fraquezas e tentar resolvê-las.

Não devemos ter vergonha de não ser perfeitos, de não ter conseguido dar à maioria dos angolanos uma qualidade de vida de que se possam orgulhar, pois os tempos não são de nos preocuparmos com as imagens que queremos ver ao espelho, mantendo o nosso fato sempre aprumado, o sapatinho engraxado e o "tubarão" a brilhar.

Esta viagem-reportagem promovida pela LAC, à qual o Expansão se associou e que passou por sete províncias de Angola, mostrou que as estradas estão más, as telecomunicações não funcionam, falta energia da rede pública, não há distribuição de água na maioria do território, a agricultura é maioritariamente competitiva nas grandes fazendas que têm acesso directo às grandes instituições financeiras e, afinal, este ano agrícola ficou comprometido pela seca. Não se deve fazer um drama, deve-se ser pragmático e tentar arranjar soluções, mas também não se deve esconder debaixo do tapete uma realidade que nos deve preocupar a todos.

Também o relatório apresentado pelo Cinvestec, esta sexta-feira, desmonta uma linguagem oficial sobre o rigor das decisões económicas, a credibilidade das estatísticas do INE, o avanço da reforma do Estado e do combate à corrupção, entre outros pontos. No Fórum Indústria do Expansão, dados apresentados pelos representantes de instituições oficiais, mostram que o ambiente de negócios no País continua a ser um entrave à entrada do investimento estrangeiro, mantendo o nosso País nos últimos lugares dos rankings apresentados.

É preciso explicar aos precursores desta estratégia de comunicação, usada em tempos passados, que hoje, com a velocidade e quantidade de informação disponíveís pelos avanços tecnológicos, uma mentira repetidas inúmeras vezes não se torna realidade, apenas ridiculariza quem a propaga. E descredibiliza o emissor. O efeito "boomerang" acaba por ser a consequência mais imediata e mais forte. E não vale a pena endurecer o discurso porque assim a mensagem nunca irá passar. O tempo é de falar olhos nos olhos com os cidadãos e com verdade.