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Economia

"Bomba atómica" de Trump nos mercados financeiros afunda petróleo e pressiona Angola

PETRÓLEO EM QUEDA LIVRE, MUITO ABAIXO DOS 70 USD DO OGE 2025

A imposição de tarifas (32%) sobre as exportações angolanas para os EUA não terá impacto directo sobre a economia nacional, mas os efeitos colaterais sobre o impacto na economia mundial são alarmantes. Governo já deu nota aos EUA que pretende negociar, à semelhança do que têm feito dezenas de outros países.

O anúncio da imposição de tarifas sobre produtos importados pelos EUA caiu que nem uma bomba sobre os mercados financeiros, e está a empurrar a economia mundial para o caminho da recessão, e a arrastar para o "fundo do poço", sobretudo países em desenvolvimento dependentes da exportação de commodities. É o caso de Angola, que se depara com uma queda substancial do preço do barril de crude nos mercados internacionais, e que está altamente dependente de financiamentos externos a garantir este ano para pagar dívida e executar o orçamento anual.

A principal consequência para Angola, nesta fase, é o afundanço dos preços do barril de petróleo devido às perspectivas cada vez maiores de uma recessão a nível mundial, o que retrairá a procura. Apesar de ser ainda cedo para apurar como será o comportamento dos preços do crude em todo o ano, o preço do barril estava esta quarta-feira cotado a rondar os 60 USD, cerca de 10 USD abaixo do valor que o Governo inscreveu no OGE 2025 (70 USD). E por cada 5 USD a menos que se verificar no preço do barril, de acordo com o relatório de fundamentação do OGE, o défice duplica dos já previstos 1,65% do PIB (1,5 biliões Kz) para 3,30% (3,0 biliões Kz), no caso de permanecer nos 65 USD e por aí afora. Mas as consequências da incerteza que se gerou a nível mundial poderão ser ainda mais graves para Angola.

Para fazer face a esse défice, Angola estará obrigada a endividar-se ainda mais ou a "puxar o travão de mão" na despesa. Como 49% do valor inscrito no orçamento deste ano é para pagamento do serviço da dívida, não restam grandes margens para cortes na despesa que não passem pelas denominadas "gorduras do Estado", algo que o Executivo tem sido renitente em fazer, apesar de o anunciar regularmente ao longo dos anos.

Por outro lado, dos 34,6 biliões Kz inscritos como receita no OGE 2025, cerca de 42% desse valor, equivalente a 14,6 biliões Kz, provêem de financiamentos internos (7,5 biliões Kz) e externos (7,1 biliões). E perante a incerteza que paira no ar, garantir os financiamentos necessários lá fora para financiar o OGE, a taxas de juro sustentáveis, não será fácil. Basta olhar para as yields angolanas - indicador que mede as taxas que os investidores dos eurobonds admitem cobrar para emprestar dinheiro a Angola - e verificar que antes do anúncio das tarifas andava à volta dos 11,30% e esta semana estão já acima dos 14%. Assim, Angola, à semelhança de outros países africanos exportadores de petróleo, corre o risco de ser novamente excluída dos mercados de dívida internacionais, já que a incerteza provocada por esta guerra das tarifas terá como consequência os investidores a abandonar os activos de maior risco.

E segundo avançou há poucas semanas a ministra Vera Daves de Sousa, o Governo pretende este ano emitir 3.000 milhões USD em eurobonds para financiar o OGE,

Processo de emissão que agora parece estar em risco e que, segundo o economista e director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho, "há que parar" nesta altura. O académico considera que, ainda assim, é cedo para se fazer um balanço sobre os efeitos das tarifas norte-americanas sobre a economia mundial, antecipando que vai haver reacções e contra reacções e tudo pode mudar, mas "certo é que, mesmo que tudo volte ao que era antes, os efeitos do que já aconteceu serão brutais", com impactos muito graves, sobretudo nos países menos desenvolvidos, como é o caso de Angola, que já está a ser prejudicada pela queda dos preços e da procura de petróleo.

Por isso, defende, há que acautelar e começar a preparar uma revisão ao Orçamento Geral do Estado. "Vai afectar drasticamente toda a economia. Temos de rever o OGE, por exemplo. Sugiro que se faça, desde já, alguma preparação inicial para o processo e que, dentro de 2 a 3 semanas, com a situação mais clara, se inicie o processo de revisão", sublinha.

O economista alerta ainda que uma tarifa de 32% sobre produtos angolanos a exportar para os EUA e a perspectiva de subida dos preços a nível global também terá um efeito de retracção sobre o investimento em Angola, o que acaba por prejudicar não só o processo de diversificação económica, mas também o objectivo de fazer crescer a produção de petróleo. Num mundo de incerteza, os investidores retraem-se e empurram os seus investimentos para activos de refúgio como o ouro, cuja cotação está em alta.

Leia o artigo integral na edição 821 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Abril de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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