Maior exposição aos mercados globais pode ser alternativa
É importante aumentar a oferta de brokers que concedam aos angolanos o acesso aos mercados financeiros internacionais, defendem especialistas, já que o mercado nacional actualmente dispõe de poucos instrumentos para as famílias e investidores angolanos.
A disparidade entre a evolução dos mercados financeiros mundiais e o mercado nacional, combinado com os reduzidos níveis de literacia financeira e de bancarização, dificultam o acesso aos mercados financeiros internacionais que só é possível através de outros intermediários financeiros como as correctoras, também conhecidas como brokers, o que por si só aumenta os perigos de burlas já que estes na sua maioria funcionam através de plataformas online e aplicativos.
Por isso, é importante que se aumente a oferta de brokers angolanos que concedam acesso aos mercados financeiros internacionais, defendem especialistas, já que o mercado financeiro angolano ainda dispõe de poucos instrumentos de poupança para as famílias e investidores, que por falta de alternativas acabam por se virar para o mercado informal.
Actualmente no País, é possível investir apenas em depósitos a prazo nos bancos, títulos do tesouro e em acções (que representa menos de 2% das negociações no mercado de capitais), já que existem apenas quatro empresas cotadas em bolsa. Os títulos de dívida pública e os depósitos a prazo, que são as alternativas mais usadas possuem taxas de juro reais que, se descontada a inflação, são negativas.
Os dados mais recentes do Banco Nacional de Angola, apontam que até ao mês de Outubro, para um depósito a prazo de 90 dias, em média, os bancos comerciais remuneravam apenas 7,3%, enquanto até 180 dias a taxa era de 10,2% e, para os depósitos a mais de 1 ano, a taxa situava-se em 11,9%, segundo constatou o Expansão, com base nas estatísticas monetárias do e financeiras. Quantos aos títulos de dívida pública, os bilhetes de tesouro (títulos públicos de curto prazo) com maturidades a 1 ano, atingiu durante o ano 2024, um máximo de 19,0%, ao passo que as obrigações de tesouros não reajustáveis (títulos públicos de médio e longo prazo) chegaram a atingir os 24% a 4 anos. Ainda assim, estas taxas estão abaixo da taxa de inflação homóloga registada em 28,2% em Novembro, depois de já ter atingido os 31,1% em Julho, a nível nacional, e 42,8% em Luanda ( em Junho).
No entanto, explica o especialista em mercados financeiros e co-founder da AirTrading Portugal, Bernardo Barcelos, que nos mercados financeiros globais, existem inúmeras possibilidades de investimento, além de títulos, obrigações e acções. Existe a possibilidade de negociar nos índices (indicadores que reflectem o desempenho de um grupo específico de activos financeiros), em matérias-primas, criptomoedas, divisas e outros.
Em Angola, apenas os bancos pela natureza das suas actividades têm exposição ao mercado de divisas, mas no mercado global, onde existem plataformas internacionais, investidores particulares também têm acesso a este mercado e conseguem fazer negociações. Quanto a outros tipos de activos como as commodities ou as criptomoedas, por exemplo, não existem em Angola porque não há plataformas que permitam a negociação destes instrumentos.
Assim, de acordo com Bernardo Barcelos, é possível ter acesso aos instrumentos financeiros disponíveis nos mercados globais, através de intermediários financeiros (Brokers), uma vez que fora de Angola existe muita oferta e muitas instituições financeiras "Há pessoas em Angola que possuem contas em intermediárias financeiras que disponibilizam o acesso a esses mercados globais. Existem muitos intermediários financeiros com acesso às bolsas internacionais", apontou.
Ainda assim, o especialista referiu que existem também casos de burla. "Por isso é preciso ter cuidado e atenção também com a escolha dos intermediários financeiros", advertiu.
Baixo nível de literacia financeira e bancarização
Por sua vez, Tiago Dionísio, economista chefe Eaglestone, defende que é necessário olhar para os níveis de literacia financeira e bancarização em Angola, uma vez que o apenas 24,7% da população apresenta níveis adequados de literacia financeira, com uma taxa de inclusão financeira de 49,4% e uma taxa de bancarização que gira em volta dos 31,5%. "É necessário intensificar os esforços para melhorar estes índices dada a importância que têm no desenvolvimento do País e dos seus agentes económicos", disse.
Este baixo nível de conhecimento sobre os mercados financeiros faz com que muitos angolanos também tenham dificuldades em investir lá fora.
"Existem pessoas em Angola com dificuldades em abrir uma conta num broker internacional, mas se olharmos para o nicho de pessoas que já têm contas em dólares ou em euros, noutros bancos fora do país, o processo de abertura de conta num broker é mais fácil e consequentemente o acesso aos mercados internacionais", explica Bernardo Barcelos. Entretanto, argumenta que é importante que haja um acompanhamento dos investimentos, tendo em conta que nos mercados internacionais existem vários instrumentos financeiros com riscos e exposições diferentes e pode não haver uma boa gestão de risco, por falta de conhecimento suficiente para fazer essa gestão. "O mercado internacional exige muito conhecimento da parte de quem vai negociar", rematou.
Leia o artigo integral na edição 807 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Dezembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)