Procura por substitutos do gás russo é uma oportunidade para Angola e Moçambique
Em 2020 a Europa importou 326 biliões de metros cúbicos de gás da Rússia. Reservas de gás natural de África equivalem a 60 anos de exportação de gás russo à Europa. Angola tem a terceira maior reserva do continente.
A procura dos países europeus por substitutos do gás russo é uma oportunidade para Angola e parceiros da África subsariana para maximizar as receitas de exportação, defende a consultora Deloitte num relatório publicado esta semana e a que o Expansão teve acesso. De acordo com o documento, a existência de recursos naturais e a posição geográfica favorecem África no aumento das exportações de gás para a Europa. As importações totais de gás líquido da UE ao longo de 2020 atingiram 326 biliões de metros cúbicos (bcm). A Rússia é o maior fornecedor de gás, com uma participação de 45%.
Ainda de acordo com o relatório da Deloitte, as reservas de gás natural de África totalizaram mais de 17,5 tcm (triliões de metros cúbicos) no final do ano de 2021, o equivalente a cerca de 60 anos das exportações de gás natural da Rússia. A maioria das recentes descobertas de gás no continente, 90%, foram feitas por países relativamente juniores na indústria petrolífera, nomeadamente a Mauritânia, Senegal, Costa do Marfim, África do Sul, Moçambique e Tanzânia.
De acordo com o partner da Deloitte para energias e renováveis, Frederico Martins Correia, este incremento de reservas de gás descobertas permite a África abraçar este recurso como o combustível primário para geração de electricidade, necessitando, para isso, de acelerar o desenvolvimento de infra-estruturas necessárias, nomeadamente uma rede proficiente de gasodutos.
No que concerne a Angola, o país possui as terceiras maiores reservas da África Subsariana com (0,5 tcm) depois da Nigéria e Moçambique, encontrando-se no top 40 mundial. Desta forma, o País poderá capitalizar a sua experiência na exploração de crude e na liquefacção de gás na fábrica do Soyo, por forma a assumir um papel relevante numa estratégia continental de gás e com um Hub energético para a SADC e região subsariana.
Para a Deloitte, a melhor forma de tirar proveito da necessidade europeia, passa por desenvolver de forma concertada, entre os países subsarianos, uma estratégia comum de exploração dos recursos existentes, assim como infra-estruturas que permitam exportar os recursos explorados.
A experiência sectorial de Angola, em sintonia com as reservas de Moçambique, e os elos comuns de terem a mesma língua, e a presença de referências internacionais do sector de energia (ex. TotalEnergies, ExxonMobil), podem ser uma alavanca para esta concertação. No entanto, e considerando a geografia continental, esta visão e projectos deverão incluir outros países como, por exemplo, a África do Sul.
Tudo por forma a garantir a construção das infraestruturas necessárias, e granjear a credibilidade e eminência que posicione o gás Africano no "radar" global. Apenas desta forma é possível evoluir de contratos de fornecimento pontuais, para contratos de longo prazo, assim como consolidar relações bilaterais duradouras com o continente europeu