Exportações caem 1.260 milhões USD e importações aumentam 612 milhões USD
Na base está a queda de 7% na produção de petróleo, menos 77 mil barris/dia, o que fez com que as companhias exportassem menos 9,2 milhões barris no I trimestre, que associado à queda do preço médio empurraram as receitas brutas para baixo. Sem petróleo e diamantes, o País exportou apenas 117,8 milhões USD.
As exportações de mercadorias angolanas caíram 14%, ao passar de 9.039,4 milhões USD no primeiro trimestre de 2024 para 7.779,0 milhões nos primeiros três meses deste ano, uma queda de 1.260,4 milhões USD. Se as exportações caíram, o mesmo não aconteceu com as importações, já que estas cresceram 612,2 milhões USD para 3.806,9 milhões, segundo cálculos do Expansão, com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA). Contas feitas, entre Janeiro e Março as trocas comerciais do País com o resto do mundo recuaram 5% para 11.586,8 milhões USD face aos 12.234,1 milhões verificados no mesmo período do ano passado.
Como de costume, a queda das exportações deve-se à retracção do sector petrolífero, cujas vendas para o exterior caíram 1.220,8 milhões USD devido à queda não só do preço médio de 82,3 USD para uma média de 74,7 USD por barril, mas também da produção no País. Isto porque que no primeiro trimestre do ano Angola produziu 94,4 milhões de barris de petróleo, o equivalente a uma média diária de 1,049 milhões de barris, o que representa uma queda de 7% face aos 1,125 milhões produzidos diariamente em média entre Janeiro e Março do ano passado. Ou seja, o País produziu menos 77 mil barris/dia face ao período homólogo, segundo os relatórios mensais da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG).
Esta queda da produção permitiu que as petrolíferas que operam em Angola exportassem apenas 85,1 milhões barris de crude, o que representa uma queda de 12% face aos 96,3 exportados no período homólogo, que resultaram nas receitas brutas de 6.363,8 milhões USD no primeiro trimestre. Já para o gás, segundo maior produto de exportação do País, o cenário foi diferente. As exportações de gás disparam 74% para 771,3 milhões USD (+329 milhões) devido ao aumento das quantidades e do preço.
Por outro lado, as exportações dos minérios (dominados pelos diamantes), que representam 5% das exportações nacionais, caíram 29% para 402 milhões USD, o que significa que as empresas mineiras exportaram menos 29,3 milhões USD face ao período homólogo.
Assim, as exportações de mercadorias angolanas continuam dependentes do petróleo e dos recursos minerais, já que estes dois sectores valem 98,5% das vendas lá para fora, um sinal claro da fraca diversificação da economia. Sem o sector petrolífero e mineiro, nos primeiros três meses o País exportou apenas 117,8 milhões USD em mercadorias como máquinas e equipamentos, materiais de construção ou bens alimentares. Este valor está muito aquém daquilo que a economia precisa e a diversificação económica está longe de compensar os efeitos negativos que o declínio da produção no petróleo tem provocado aos cofres do Estado.
Não é que a diversificação económica não esteja a acontecer, está, mas muito devagarinho e insuficiente para as necessidades que o País tem, onde impera uma alta de desemprego e de inflação, já que Angola continua a importar a maior parte dos bens alimentares que a população precisa. E só nos primeiros três meses do ano, a importação de bens alimentares que representa 15% do total das importações aumentou 15% ao passar de 509,9 milhões USD no primeiro trimestre do ano passado para 586,7 milhões nos primeiros três meses deste ano, o que significa que o País importou mais 76,8 milhões USD em alimentos.
A classe de alimentação e bebidas não alcoólicas é a que mais pesa nos bolsos das famílias e o BNA tem referido por diversas vezes que o comportamento do preço dos alimentos resulta, fundamentalmente, da redução da oferta dos produtos de amplo consumo na economia, tendo em conta a insuficiente produção interna e a contínua redução das importações. A concretizar- -se um cenário de redução das exportações este ano, será quase inevitável um novo escalar dos preços dos alimentos. "A vida vai tornar-se mais difícil. O Governo já está em modo eleitoral, fazendo crescer as importações, mas não creio que seja possível algo parecido com o que se assistiu em 2021/2022, quando os preços do petróleo e gás subiram extraordinariamente com a guerra da Ucrânia. Não há perspetivas para que haja alguma folga orçamental que possa dinamizar a economia nos próximos trimestres, mas tudo muda", aponta o economista e director do CINVESTEC, Heitor Carvalho.
E acrescenta que o aumento das quantidades importadas teve um efeito quase imediato na inflação, comprovando-se que a subida dos preços se deve sobretudo à escassez, resultante da redução das importações sem o correspondente aumento das quantidades produzidas e ao aumento da população. "Esta análise sem os serviços é bastante parcial, mas no que diz respeito aos principais factores de inflação, os alimentos e medicamentos, temos, no I trimestre aumentos [de bens importados] de 15% e 37%, respectivamente. Infelizmente, a redução das exportações não vai permitir manter este cenário a partir do III trimestre", explicou.
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