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Empresas & Mercados

Angola força saída da multinacional russa Alrosa da Sociedade de Catoca

SANÇÕES AOS DIAMANTES RUSSOS PREJUDICAM SOCIEDADE

O fim da participação da Alrosa no capital social da Sociedade Mineira de Catoca está para breve. Autoridades angolanas e russas reuniram-se no Dubai na semana passada para tentar desbloquear o negócio. Os angolanos querem um divórcio pacífico, mas a parte russa ainda tem uma palavra a dizer.

Angola está a forçar a saída da Alrosa da Sociedade Mineira de Catoca, que se tornou tóxica para a comercialização de diamantes angolanos devido às sanções internacionais à Rússia, mas a multinacional russa exige fechar contas para sair, apurou o Expansão.

Esta intenção já tem vários meses e, para já, mantém-se o braço de ferro entre as duas partes, tendo Angola na semana passada enviado uma comitiva ao Dubai para reunir-se com autoridades russas para tentar desbloquear a saída da Alrosa.

Esta reunião no Dubai decorreu dias depois de uma visita do ministro do Interior da Federação Russa a território angolano, que passou despercebida dos holofotes públicos.

Ao que o Expansão apurou, os russos estão a levantar entraves à saída já que apenas admitem fazê-lo depois de "fechar contas" devido aos avultados investimentos que fizeram em Angola ao longo dos anos, mas as autoridades angolanas descartam uma eventual compensação financeira.

"O património é angolano e ainda seremos obrigados a pagar contrapartidas? Não pode ser", disse uma fonte junto do processo das negociações, lembrando, que é desejo da parte angolana que os russos saiam imediatamente e sem exigências.

Apesar da convicção da parte angolana, especialistas acreditam que a "procissão ainda vai no adro". A fonte disse que a Alrosa continua a ser o parceiro certo para a indústria diamantífera angolana, mas a conjuntura internacional obriga a parte angolana a jogar no seguro e evitar que as sanções que pesam sobre ela afectem o desempenho da empresa angolana.

Em termos práticos, uma das formas de facilitar este acordo poderia ser uma saída agora, mas garantindo um princípio de acordo para regressar no futuro, quando as sanções forem levantadas. Só que face à aproximação recente de Angola aos EUA, os russos olham com alguma desconfiança para este eventual desfecho.

Entretanto, para os sócios angolanos da Alrosa, mais concretamente a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama), a saída dos russos é a única forma de garantir que o sector deixa de estar sobre os holofotes das sanções internacionais, que tanto têm prejudicado as operações naquele que é o quarto maior kimberito do mundo, a mina de Catoca.

Esta semana, o presidente da Endiama, Ganga Júnior, durante a conferência de imprensa de balanço das actividades desenvolvidas pela diamantífera em 2023, em resposta a uma questão do Expansão, referiu que o bom desempenho e credibilidade de Catoca no mercado internacional depende da saída da Alrosa, que é um problema.

Ganga Júnior explicou que os fornecedores externos de Catoca estão a recuar e muitos bancos não querem trabalhar com a maior diamantífera angolana por ter como sócia uma empresa russa.

O gestor explicou que as sanções às empresas e diamantes russos estão na base de muitos fornecedores importantes questionarem a parceria de Angola com a multinacional russa nos negócios de diamantes em Angola. "Todos sabemos que as sanções à Rússia e à Alrosa estão na base das negociações para a saída dos russos na Sociedade Mineira de Catoca", disse.

Desde Maio do ano passado, os negócios russos têm sido alvo de sanções por parte do ocidente devido à invasão da Ucrânia, o que tem vindo a afectar o comércio de diamantes angolanos. E, por isso, a saída da Alrosa é encarada como necessária. "Nestes dias estamos a assistir a algumas instituições, como bancos, a recusarem-se a trabalhar com Catoca", disse o patrão da Endiama, tendo garantido que existem fornecedores importantes ligados ao ocidente e à Europa a levantar problemas relacionados com a participação da Alrosa em Catoca.

Lembrou, por outro lado, que "no início do ano, fui contactado pela Komatsu, empresa japonesa, para saber o que se passa e querem fechar as portas". "O que estamos a dizer a estes parceiros é que o Estado angolano detêm a participação maioritária de Catoca, ou seja, Angola tem 59% de Catoca. A gestão de Catoca é de angolanos e quem nomeia e designa os gestores somos nós angolanos", explicou o gestor, acrescentando que "o que estamos a dizer é que Catoca não é uma empresa de domínio da Rússia, o que tem permitido que os fornecedores e outros parceiros continuem a trabalhar com a empresa angolana".

Leia o artigo integral na edição 759 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)