Reestruturações e digitalização levam banca a despachar 1.135 trabalhadores em 2022
A queda do número trabalhadores, deve-se, sobretudo, à modernização do sector no sentido da digitalização no pós-Covid, mas também aos processos de reestruturação em curso na banca comercial, liderados pelos bancos BPC e pelo BCI que, juntos, são responsáveis pela saída de 801 funcionários no ano passado.
A banca comercial despachou 1.135 trabalhadores em 2022, de acordo com cálculos do Expansão com base nos relatórios e contas de um conjunto de 20 bancos. Só nos últimos cinco anos, o sector bancário já perdeu 3.669 funcionários.
Na base destas saídas face a 2022 estão os processos de reestruturação em curso na banca, liderados pelos bancos BPC, BCI e Económico, bem como o processo de digitalização e o encerramento de dois bancos, nomeadamente o BMF e o Prestígio.
O Banco de Comércio e Indústria (BCI) foi a instituição que mais despachou funcionários no ano passado a nível da banca comercial. O banco liderado por Renato de Assunção Borges, perdeu 549 colaboradores só em 2022. Em seguida está o gigante público, BPC, que registou asaída de 252 trabalhadores. Juntos são responsáveis pela saída de 801 pessoas em 2022 (ver peça ao lado).
Já o Yetu, foi o banco que mais contratou pessoal, adicionando 52 pessoas aos recursos humanos da instituição bancária, seguido pelo BDA e pelo BIC, ambos ganharam mais 48 funcionários.
Ainda assim, o BPC lidera a lista dos maiores empregadores da banca com 3.630 colaboradores registados em 2022. Aliás, o banco liderado por Cláudio Pinheiro (ver Grande Entrevista) detém quase 20% do total de trabalhadores da banca. Segue-se o BFA (2.709), BIC (2.124), BAI (1.095) e SOL (1.707), Juntos compõe o top 5 dos bancos que mais empregam. Por outro lado, o Standard Chartered Bank Angola, com apenas 29 colaboradores, destaca-se como o banco com menor número de funcionários. Neste sentido, fazem parte do ranking dos que menos empregam o Banco da China Sucursal em Luanda (39), BCH (64) Valor (100) e BCS (163). Quanto ao VTB, não foi possível apurar o número de trabalhadores em 2022, já que apesar de empregar 85 em 2021, de acordo com o relatório de 2022 do conselho fiscal, face às dificuldades com a ligação à Rússia, se comprometeu a terminar com metade dos postos de trabalho. O Expansão não conseguiu apurar se já efectivou este plano, uma vez que o banco não publicou o relatório e contas, publicando apenas as demonstrações financeiras onde não consta essa informação.
Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários (SNEBA), Filipe Makengo, a redução do número de trabalhadores bancários deve, sobretudo, aos processos de reestruturação e de digitalização em curso na banca. Associado aos dois fenómenos, está a redução do número de bancos a operar no sector.
"A venda do banco público BCI ao grupo privado [Carrinho] no último semestre do ano de 2022trouxe consigo consequências ao quadro de pessoal. Do universo de cerca de 1.100 trabalhadores, mais de metade foi dispensado por via de acordos de cessação do contrato de trabalho, a exemplo do praticado pela maioria dos bancos. Por incumprimento de regras prudenciais, o BNA retirou [nos últimos anos] ao mercado cinco bancos, aos quais se junta o Banco BAI Microfinancas", apontou.
Por sua vez, Noelma Viegas D"Abreu, da academia BAI, entende que se trata de uma redução natural, da diminuição da necessidade de profissionais para o exercício de algumas funções na banca, especialmente ao nível do atendimento, ao balcão.
"Grande parte das operações bancárias faz-se, actualmente, sem necessidade de deslocação às agências bancárias. Logo, o fenómeno da digitalização, mesmo num país como o nosso onde há ainda muito por fazer, do ponto de vista da literacia financeira, a transformação digital é a principal razão. A utilização do telemóvel para o levantamento de dinheiro sem cartão, só para citar um exemplo de evolução, foi um salto gigante de aceleração de processos e de vantagens da tecnologia, da inteligência artificial que impacta sobre os serviços bancários", sublinha.
(Leia o artigo integral na edição 731 do Expansão, desta sexta-feira, dia 30 de Junho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)