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Mundo

Tamanho dos pigmeus explica sucesso humano

Antropologia

Já se sabia que o pequeno tamanho dos pigmeus era explicado pela genética.

 

O que não se sabia era que a evolução diferenciada mas convergente dos dois grupos destes caçadores-recolectores da África Central visa uma resposta a um ambiente semelhante - a adaptação de sucesso a uma vida na floresta equatorial.

A pequena estatura dos pigmeus foi sempre um mistério para a ciência. Mas uma investigação da Universidade da Pennsylvania (EUA) revelou recentemente que os genes que fazem com que um adulto deste grupo não ultrapasse 1,50 metros estão relacionados com a precoce maturidade reprodutiva que os indivíduos apresentam, uma vantagem importante, visto a sua esperança de vida ser muito curta (entre os 15 e os 24 anos).

Os pigmeus Baka, Bakola e Bedzan, da África Ocidental, são caçadores-recolectores e vivem em ambientes tropicais nos Camarões. São 17 centímetros mais pequenos do que os seus vizinhos Bantu e uma das populações mais baixas do planeta.

Eles mesmos consideram a sua baixa estatura uma vantagem, porque os torna ágeis nas suas andanças pelas obscuras selvas africanas. E ainda fazem troça, chamando aos altos e fortes Bantu 'elefantes desajeitados'.

Os cientistas conseguiram por fim preencher uma lacuna na história dos pigmeus da África Central, cujo passado é um dos mais obscuros entre o de todas as comunidades do mundo, e descobriram que as populações de pigmeus africanos partilham um antepassado comum desde há cerca de 60 mil anos e ter-se-ão separado em dois grupos principais há cerca de 8.000 a 13.000 anos, segundo um estudo publicado na revista Nature Communications.

Um dos grupos está no Ruanda, Uganda e no Leste da República Democrática do Congo (no Leste africano), enquanto o outro se encontra nos Camarões, na República Centro-Africana, no Congo, Gabão e no Oeste da República Democrática do Congo (no Oeste africano). Do estudo desses dois grupos sobressai que a morfologia destas populações resulta de dois mecanismos diferentes.

Trata-se de uma evolução convergente em resposta a um ambiente semelhante - a adaptação a uma vida na floresta equatorial. Segundo a pesquisa, essa plasticidade do crescimento - a sua capacidade de mudar - desempenhou um papel determinante na expansão do Homo sapiens fora de África, permitindo adaptar- se rapidamente a novos ambientes. "O nosso ancestral deixou África há 60 mil anos, e alguns milhares de anos mais tarde ocupou todo o planeta, ao contrário de outras espécies de hominídeos que tiveram uma repartição geográfica limitada", constatou um dos investigadores.

"Claro, a cultura desempenhou um papel enorme na evolução, mas também a capacidade (dos nossos ancestrais) de se adaptarem fisicamente aos ambientes hostis", concluiu o cientista. Porém, essas comunidades pigmeias identificam-se principalmente como 'povos da floresta', devido à importância fundamental da floresta à sua cultura, modo de vida e história. Grupos diferentes apresentam línguas e tradições de caça diversas. Embora cada comunidade enfrente ameaças e desafios diferentes, o racismo, a exploração madeireira e projectos de conservação são grandes problemas para muitos, todos contribuindo para sérios problemas de saúde e abuso violento.

Segundo uma análise genética, num período-chave da odisseia humana, estas tribos de caçadores-recolectores evitaram a miscigenação com comunidades falantes de Bantu, composta por fazendeiros precoces. Vida e cultura ameaçadas pelo progresso

Os dois grupos encontraram- -se pela primeira vez quando grupos Bantu, que adquiriram tecnologia agrícola há 5.000 anos, começaram a mudar-se da região da Nigéria e dos Camarões para o Leste, o Centro e o Sul da África oriental. A maioria de outros caçadores- recolectores que encontraram logo adoptou o estilo de vida agrícola, sedentário, e até mesmo os idiomas dos grupos Bantu.

Os dois grupos passaram milhares de anos adaptando- se aos seus ambientes diferentes antes de se encontrar de novo. Mas algumas poucas populações, como os pigmeus da floresta tropical na África Central, mantiveram o seu estilo de vida tradicional e nómada. Os pigmeus podem ter comercializado cerâmica, ferramentas e ideias com os recém-chegados, mas não compartilharam com eles os seus genes, destacou o estudo, publicado na revista Nature Communications.

A evidência veio de uma leitura do ADN de cerca de 300 indivíduos - pigmeus e falantes de Bantu do Gabão, Camarões, Uganda, República Centro- africana e República Democrática do Congo. Estudos antropológicos sugeriram que o tabu pode ter algo que ver com a imagem que os aldeões têm dos pigmeus como portadores de mágica florestal, mas também da desaprovação de seu estilo de vida, como caçadores-recolectores nómadas. Hoje, como no passado, a sorte dos Pigmeus está ligada à selva.

Fora dela, a sua cultura e a sua vida perdem-se. Mas ultimamente o seu meio ambiente está a ser cada vez mais modificado e destruído pela extracção de madeira, extensas plantações de café, minas de ouro e diamantes e implantações industriais. Percebe-se que o povo Pigmeu é um povo que luta pela sua sobrevivência, e, ao contrário da maioria dos homens, ele só extrai da Natureza o que é necessário para garantir essa sobrevivência.

Portanto, é preciso ter a consciencialização de que um povo que não se desenvolve industrialmente, ou seja, não modifica a Natureza, é um povo tão inteligente ou até mais do que os demais, pois eles, sim, têm a consciência de que todos nós devemos preservar a Natureza e que prejudicando- a estaremos prejudicando-nos à nós próprios.

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