Moeda do Gana valoriza graças ao ouro e política monetária
Devido às intervenções do banco central, o regime cambial do Gana foi reclassificado como " administrado" a partir de 15 de Maio de 2024, deixando de ser livre. Cedi foi a moeda que mais valorizou este ano no mundo. Fundo Monetário Internacional alerta para riscos de intervenção do banco central.
O Banco do Gana vendeu 1,4 mil milhões USD em divisas no I trimestre de 2025, "marcando um ritmo agressivo de intervenção no mercado cambial", que levou o FMI a mudar a classificação do regime cambial do país, de livre para "administrado", mas que contribuiu para a forte valorização da moeda nacional. Com uma valorização de 42% desde o início do ano, o cedi é a moeda com o melhor desempenho no mundo em 2025, uma trajectória que não está isenta de riscos, segundo o FMI, e que contraria as previsões do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD). Nas perspectivas económicas, divulgadas em Maio, o BAD colocou o Gana entre os 21 países africanos que verão as suas moedas cair este ano e em 2026 e no lote dos 8 países com desvalorizações cambiais previstas "de 6% ou mais", entre os quais se incluem o Egipto, Etiópia, Líbia, Nigéria, Ruanda, Zâmbia e Zimbabué.
Segundo o The High Street Journal, "os analistas atribuem a subida do cedi em parte ao enfraquecimento do dólar norte-americano devido às políticas económicas do Presidente Trump, mas, principalmente, à gestão fiscal disciplinada do Gana e ao aumento das receitas do ouro". Ainda assim, "a escala das vendas de divisas por parte do banco central não pode ser ignorada", acrescenta o jornal económico ganês esta segunda-feira, quatro dias após a divulgação do relatório da quarta avaliação ao programa apoiado pelo FMI, com um financiamento de 3 mil milhões USD.
O valor de divisas vendidas no I trimestre do ano ultrapassa o total de mil milhões USD que o Banco do Gana (BoG ) injectou no mercado em 2023 e segue-se a uma liquidação recorde de 2 mil milhões USD no último trimestre de 2024, impulsionada pelas pressões relacionadas com as eleições, num total de 3 mil milhões USD no ano passado.
Em Maio, a Reuters noticiou que o cedi "valorizou mais de 40% face ao dólar este ano, superando largamente as outras moedas africanas e dos mercados emergentes", o que teve uma influência positiva no custo da dívida externa e na posição fiscal do país. Dados da LSEG mostravam, a 28 de Maio, que, com uma valorização de 42,37%, o cedi liderava o top 3 das moedas com melhor performance este ano, seguido do rublo russo (com 36,76%) e a moeda húngara (11,67%).
"Bonança do ouro"
Num evento de CEOs, o governador do Banco do Gana, Johnson Asiama, assegurou que o banco central não utilizou as suas próprias reservas para sustentar o cedi, apontando como receita para o bom desempenho da moeda nacional uma combinação de três factores: a política monetária restritiva, leilões de câmbio mais limpos e fluxos de remessas mais fortes.
Já o banco de investimentos JPMorgan, em nota aos investidores, atribuiu o impulso do cedi à "bonança com o ouro", com os preços a atingirem máximos históricos de 28 anos.
No relatório da quarta avaliação ao programa de financiamento ampliado, o FMI refere que o Banco do Gana "continuou a reconstruir reservas, ao mesmo tempo que aumentou ainda mais a sua presença" no mercado cambial. "Para além do seu papel na intermediação de entradas cambiais relacionadas com o cacau e a mineração, o BoG é agora um grande intermediário no mercado do ouro", refere o FMI, adiantando que a "expansão substancial do Programa Doméstico de Compra de Ouro (DGPP) permitiu ao BoG superar consistentemente as suas metas de NIR [reservas internacionais]" e atingir "o seu objectivo de cobertura de reservas programado antes do previsto".
No entanto, esta estratégia não está isenta de riscos. Em primeiro lugar, as reservas de ouro do Gana, o "sexto maior produtor mundial de ouro e o maior de África", duplicaram em 2024, "aumentando os riscos para o balanço do BoG". Em segundo, a acumulação de activos estrangeiros levou a um aumento de 48% da base monetária em 2024, que não foi totalmente esterilizada através das OMO [operações de mercado aberto], com as consequentes repercussões na inflação e na taxa de câmbio. Em terceiro, face a grandes entradas de divisas e a uma rápida acumulação de activos estrangeiros, o Banco do Gana realizou repetidas operações cambiais ad hoc de cerca de 4 mil milhões USD entre Outubro de 2024 e Abril de 2025, o que contribuiu para a recente valorização do cedi e ajudou a atenuar o aumento da liquidez interna.