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Opinião

A vergonha do ex-BESA

EDITORIAL

Em Portugal, o julgamento já começou, mas nós por aqui nada. Por exemplo, o responsável máximo da instituição naquele tempo, Álvaro Sobrinho, que muitos apontam como o principal culpado do desvio de fundos do banco, faltou à 1ª sessão do julgamento em Lisboa, mas passeia-se tranquilamente em Luanda, onde mantém os seus negócios e as suas coisas.

O pai, BNA, voltou a dar uns dinheiros ao filho, ex-BESA, embora como já conhece as práticas do dito, fez as respectivas imparidades e na prática já deu como perdido cerca de 70% do valor que lhe facultou em 2024. Desta vez, foram 85 milhões USD, um pouco menos da dívida que o filho lá tem em incumprimento desde 2016, 257 mil milhões Kz, que na verdade o pai pouco ou nada fez para recuperar. Apesar de ter sido implacável em outras situações de incumprimento, inclusive com a retirada de licenças de actividade, de mostrar muitas vezes dureza e inflexibilidade no tratamento a outros membros da família, com este filho, até agora nada.

Ou quase nada. Porque sempre se fala de planos de recuperação, ideias umas atrás das outras, conversas sobre a dimensão que o ex-BESA já não tem, o perigo sistémico que não existe, ou a situação dos depositantes, lembrando que os mais pequenos já estão defendidos pela lei e os maiores já são sócios do fundo que é dono do banco. Mas, na verdade, o filho, o ex-BESA, enquanto entidade, não é responsável por esta situação, pelo que, ao não resolver o imbróglio, o pai, BNA, está mesmo a defender os gestores que permitiram ou alimentaram os "roubos", os que nunca pagaram, uma elite que ficou milionária e que até agora nunca prestou contas. Alguns achavam mesmo que o dinheiro era dado, como disse uma vez uma figura política do nosso País.

Passaram nove anos sobre o momento em que se deu conta da dimensão do buraco que a instituição tinha. Em Portugal, o julgamento já começou, mas nós por aqui nada. Por exemplo, o responsável máximo da instituição naquele tempo, Álvaro Sobrinho, que muitos apontam como o principal culpado do desvio de fundos do banco, faltou à 1ª sessão do julgamento em Lisboa, mas passeia-se tranquilamente em Luanda, onde mantém os seus negócios e as suas coisas.

Pode perceber-se que existe dificuldade em abrir esta "caixa de Pandora", porque os estilhaços podem cair no colo de muitos que ocupam a parte superior da hierarquia do Poder, porque o início de um processo de dissolução do banco levaria obrigatoriamente a que se tornasse público a lista dos devedores e dos beneficiários dos negócios desastrosos do BESA, porque possivelmente muitos dos que ostentam a banga de "eu posso, eu sou poderoso", afinal têm telhados de vidro.

Agora continuar-se a alimentar esta realidade apenas por egoísmo próprio, por sentido corporativo de uma elite, e que custa milhões de dólares a todos nós, que descredibiliza o País junto das instituições financeiras internacionais, com um impacto enorme no acesso a investimentos e no desenvolvimento da Nação, é que me parece demasiado egoísta. Ou melhor, parece-me verdadeiramente inadmissível e vergonhoso. E também para a nossa Justiça, que perante um saque desta dimensão não abriu um único inquérito...

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